Torcer pelo outro time.

De vez em quando Joe me pergunta: Ieda, para que time você está torcendo? E eu fico ali parada, com um ar de quem não entendeu muito mas sabe perfeitamente sobre o que ele está falando.
Ele força que eu veja, às vezes, o que a displicência não me permite ver.
Além de olhar, sinto que ver é algo que me obriga a ir mais a fundo.
Obrigada, Joe, pelas dicas. Você tem me ajudado a ampliar a visão! E quanto enriquece a minha vida!
Estamos em plena Copa do Mundo. Países se encontram competindo entre si por uma estatueta muito bonitinha. Dizem que de ouro. Não sei.
Onde este campeonato se instala modifica tudo: a infra-estrutura do país onde acontece é alterada, modificada, melhorada. A Alemanha, neste episódio, montou uma superestrutura para atender aos milhares e milhares de visitantes daquele país nestes dias. Várias cidades e estados alemães entraram no clima de turismo intenso e organizaram – além dos eventos relacionados à própria Copa, um sem número de shows, atrações de toda a sorte.
A visualização do hospedeiro é muito boa.
Mas penso que o destaque do vencedor é sobremaneira importante.
No último jogo em que o Brasil competiu com o Ghana eu torci pelo outro. Mas não precisa sair por aí falando pra todo mundo porque isso é segredo! Até que eu falo para as pessoas, mas pessoalmente é mais fácil para me explicar.
Entendam: Ghana é um país pequeno e pobre da África. Não tem nenhuma expressão mundial e ficou independente da Inglaterra há apenas 50 anos. Seus jogadores são negros. Mundialmente desconhecidos.
Se Ghana ganhasse estaríamos forçados a, no mínimo, conhecer mais daquele lugar. Conhecer seu povo, seus problemas, suas dificuldades e, quem sabe, desejaríamos ir lá aquecer o turismo e gastar nosso dinheirinho mundial no país vencedor da Copa do Mundo de 2006.
Pensem!
Minha opção é pelos oprimidos e empobrecidos do/no mundo.
Além disso, voltando logo para casa sem a vitória nas mãos viríamos da mídia algo mais do que informações particulares e minuciosas sobre os jogos, os jogadores e outras amenidades.
Entendeu?
Será que todos os nossos problemas se reduzem ao tornozelo de Fulano ou Cicrano?
Agora estou torcendo pelo Portugal.
Ou Ucrânia.
São Europeus, sim. O primeiro foi nosso colonizador e nos quebrou desde o início mas já está perdoado.
A Ucrãnia merece esta ventura.

(Hoy la Alemania venció la Argentina. !Qué lastima! Perdónenme, mis hermanos, ustedes no son tan buenos sudamericanos… Rs.)

Imprensa e Julgamento de Valor


Ainda estava numa das minhas licenciaturas quando começamos a pensar sobre a diferença entre lixo informativo e notícias de valor para o bem comum.
Claro que é necessário que se tenha uma certa tolerância quanto aos equívocos e muitos erros de português que cometem as pessoas ligadas à imprensa escrita e falada daqui de Jequié: estamos quase no fim do mundo, numa cidade pobre do interior da Bahia. Nordeste. Brasil. Sul da América.
Podemos ser medíocres e falar ou escrever mal? Até que sim. Temos nosso contexto. Embora a academia grite que não é admissível que o profissional da língua erre tanto.
Mas o que não me permite continuar calada é o julgamento de valor realizado em minha cidade como se o locutor, o repórter, o comentarista da imprensa possuísse amplo conhecimento e vasta leitura acerca dos diferentes fatos ocorridos. Ou dos que nem sequer ocorreram. Isso, não, minha gente! Não posso tolerar!
Dia desses resolvi ouvir um pouco de uma de nossas FM’s daqui. Era um programa ‘jornalístico’. E o locutor falou que Fidel Castro havia afirmado que Cuba seria o lugar mais seguro do mundo para se morar. O locutor falou e riu. Em plenas gargalhadas. Uma coisa deplorável.
Estamos num País dito democrático. Penso que podemos questionar uma democracia em que se fala o que se quer – tem-se plena liberdade de expressão – mas não se tem um povo devidamente alfabetizado e educado.
Democracia sem educação não é democracia.
Além do mais, mesmo não sendo do ramo do jornalismo eu imagino que deva haver por lá, por sua legislação, algo ligado à Ética. Esta, necessária em qualquer espaço humano.
Pois bem. Também deve haver por lá algo próximo da tão famosa neutralidade. Se não, que seja obrigatório!
Pedrinho Guareschi já havia se pronunciado sobre o assunto em alguns espaços de reflexão, especialmente também em seu livro Sociologia Crítica (vale a pena dar uma lida!).
Tudo bem que ser neutro é humanamente impossível. Nunca estamos isentos de gostar ou não gostar de branco.
A risada grotesca daquele jornalista de quem nem sei o nome – e pretendo não saber mesmo pois detesto ter raiva das pessoas – ainda soa desgraçadamente em meus ouvidos.


Pérolas do não-eu.

Bem que deveriam ter sido escritos por mim os textos abaixo. Mas quem sou eu?
Cravo aqui pérolas de outros que já estão incrustradas em meu blog, em coração. É meu grito por justiça ou minha indinação pela ausência dela.
Vamos nos de-li-ci-ar!

É O QUE ACONTECE

Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece”

(Mário Henrique Leiria)

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Na primeira noite
Eles aproximam-se
E colhem uma Flor
Do nosso jardim
E não dizemos nada.

Na segunda noite,
Já não se escondem:
Pisam as flores
Matam o nosso cão,
E não dizemos nada.

Até que um dia
O mais frágil deles
Entra sozinho em nossa casa,
Rouba-nos a lua e,
Conhecendo nosso medo,
Arranca-nos a voz da garganta

E porque não dissemos nada,
Já não podemos dizer nada.”

(Maiakovski)

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A Sancho Panza (Fragmento)

Sancho-bueno, Sancho-arcilla, Sancho-pueblo,
tu lealtad se supone,
tu aguante parece fácil,
tu valor tan obligado como en la Mancha lo eterno.
Sancho-vulgar, Sancho-hermano,
Sancho, raigón de mi patria que aún con dolores perduras,
y, entre cínico y sagrado, pones tu pecho a los hechos,
buena cara a malos tiempos.

Sancho que damos por nada,
mas presupones milenios de humildad bien aceptada,
no eres historia, te tengo
como se tiene la tierra patria y matria macerada.

Vivimos como vivimos porque tenemos aún tripas,
Sancho Panza, Sancho terco.
Vivimos de tus trabajos, de tus hambres y sudores,
de la constancia del pueblo, de los humildes motores.


Sancho con santa paciencia,
Sancho con buenas alforjas,
que en el último momento nos das, y es un sacramento,
el pan, el vino y el queso.

Pueblo callado, soporte
de los fuegos de artificio que con soberbia explotamos,
Sancho-santo, Sancho-tierra, Sancho-ibero,
Sancho-Rucio y Rucio-Sancho que has cargado con los fardos.

[…]

(Gabriel Celaya)

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Incerteza

Toda, toda a noite fria
O rouxinol cantou.

Mas ao raiar do dia
Logo se cala triste,

Uns dizem que fugiu
Outros que não existe.

(Pedro Homem de Mello)

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Para tudo há um momento e um tempo para tudo o que se deseja debaixo do céu:

Tempo de nascer e tempo de morrer,
tempo de plantar e tempo de arrancar plantas,
tempo de matar e tempo de curar,
tempo de destruir e tempo de edificar,
tempo de chorar e tempo de rir,
tempo de lamentar e tempo de dançar,
tempo de atirar pedras, e tempo de as ajuntar,
tempo de abraçar e tempo de evitar o abraço,
tempo de procurar e tempo de perder,
tempo de guardar e tempo de atirar fora,
tempo de rasgar e tempo de coser,
tempo de calar e tempo de falar,
tempo de amar e tempo de odiar,
tempo de guerra e tempo de paz.

Que proveito tira das suas fadigas aquele que trabalha?

Eu vi a tarefa que Deus impôs aos filhos dos homens para que dela se ocupem.

Todas as coisas que Deus fez, são boas a seu tempo. Até a eternidade colocou no coração deles, sem que nenhum ser humano possa compreender a obra divina do princípio ao fim.

Eu concluí que nada é melhor para o homem do que folgar e procurar a felicidade durante a sua vida. Todo o homem que come e bebe e encontra felicidade no seu trabalho, tem aí um dom de Deus.»

Bíblia Sagrada, Livro do Eclesiastes 3. 1-8



Empobrecidos no mundo.



Li, não. Deliciei-me com “
Textos Sagrados – Corpos Inundados de Sagrado” de Maria Soave. (Obrigada, Ane, pela indicação!). No meio da infinidade de ensinamentos dessa mulher tão especial e a quem conheço apenas de ouvir – ainda – quero enfatizar agora um ponto.

Soave elabora uma idéia instigante a partir do anúncio de uma nova palavra para mim: “empobrecidos”. Talvez não tão nova, mas vestida de um novo sentido.

Apenas uma palavra. Pronunciada por Soave em meio a uma riqueza de conteúdos e informações que nos convidam – de forma tão elegante! – a prosseguir o texto mesmo depois de termos virado a página. Fechado o livro… E as idéias do texto vão passeando em nosso coração com toda a poesia e realidade com o qual foi tecido.

Falar de empobrecidos, além de falar de mulheres e crianças, dá à escritora título de experiência e vigor. No texto. Além dele, falar de empobrecidos faz-nos refletir sobre quem são os empobrecidos.

Penso que questionar a exclusão no Brasil requer do pensador um esforço ainda maior, considerando-se que quando se exclui alguém de algum espaço ou direito imagina-se que num momento anterior esse indivíduo era proprietário daquele espaço ou direito e dele o fora tirado.

Sacado.

Marginalizado.

Excluído.

É claro que a partir de uma visão maior devem ser considerados os muitos casos daqueles que abandonaram a terra, a zona rural, na ilusão de que na cidade (melhor ainda – na grande cidade) as oportunidades seriam melhores. Daí Soave toca na idéia dos empobrecidos.

Para mim é também importante falar sobre o jeito com que distribuíram as terras aqui no Brasil em 1.500. Quando os portugueses vieram e se intitularam “descobridores” daqui: muita terra pra pouca gente forçando-nos a compreender desde pequenos – ainda que não teoricamente mas por sentirmos reflexos disso! – que há muitos sem ter o que ter e poucos cheios de bens e riquezas.

Soave denuncia a existência de empobrecidos supondo que antes eles eram ricos. Tornaram-se pobres. Menina! Essa sua idéia move meu coração para a necessidade de agir, de buscar mudanças neste estado de coisas, embora me sinta tão frágil. Tão pequena. Tão distante de uma possível solução.

Neste País de fortes filhos que “não fogem à luta”, porém, Soave, talvez a gente precisasse apregoar em alto e bom som que nosso povo não foi somente empobrecido. A eles sequer fora dado em qualquer momento da história de nosso País algum direito de possuir, de ter e muito mais grave que isso, o direito de ser.

Diferente do que ocorre em outros lugares desenvolvidos do mundo, como por exemplo, na França, os excluídos daqui nunca possuíram nada. Nenhum bem. Nenhum direito. Nada.
Então falar de empobrecido e excluído aqui no Brasil exige de nós um olhar ainda mais profundo. Mais grave. Menos tolerante, talvez.

Empobrecidos no mundo somos nós. Que nos calamos e nos acomodamos ao fim das contas com a esta história real vivida por nós que nos desumaniza um pouco mais todos os dias.

Soave, seu texto ainda está em mim.

Obrigada.

Al otro lado del río

Minha leitura:

Embora nem tudo seja ou esteja do jeitinho que desejo ainda há esperança.
Basta olhar além. Talvez sair de mim mesma.
Acreditar.
Não, porém, com uma ingenuidade que me amarre
Me imponha silêncio. Me limite.
“Acreditar na existência dourada do sol mesmo que em plena boca nos bata o açoite contínuo da boca” como
diriam Aldir Blanc e João Bosco.
Todavia essa só poderá ser minha postura diária se estiver carregada de ação (Tantas vezes quantas vezes retornei a este texto para corrigi-lo, complementá-lo. Para tratar de sua estética).
Porque apenas pensar sobre as desigualdades e sofrimentos é pouco para quem se compreende ator da vida.
E todos nós precisamos pensar assim: Eu penso. Eu ajo. Eu mudo. Eu faço.
Eu posso.
Mas isso tudo fica no terreno do agir-pensar-agir.
Como Paulo Freire gosta.
E remo…

Al Otro Lado Del Río
Jorge Drexler

Clavo mi remo en el agua
Llevo tu remo en el mío
Creo que he visto una luz
al otro lado del río

El día le irá pudiendo
poco a poco al frío
Creo que he visto una luz
al otro lado del río

Sobre todo creo que
no todo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima
y yo, soy un vaso vacío

Oigo una voz que me llama
casi un suspiro
Rema, rema, rema-a
Rema, rema, rema-a

En esta orilla del mundo
lo que no es presa es baldío
Creo que he visto una luz
al otro lado del río

Yo muy serio voy remando
muy adentro sonrío
Creo que he visto una luz
al otro lado del río

Sobre todo creo que
no todo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima
y yo, soy un vaso vacío

Oigo una voz que me llama
casi un suspiro
Rema, rema, rema-a
Rema, rema, rema-a

Clavo mi remo en el agua
Llevo tu remo en el mío
creo que he visto una luz
al otro lado del río

João Marcos

Hoje tenho o prazer de comunicar a todos o nascimento do meu sobrinho João Marcos que, de alguma forma, nasce de mim, de meu coração e invade minha vida sobremaneira.
Estou tão feliz…
Ele nasce na data em que se comemora o dia dos namorados. Coincidência ou não… é um grande presente ao nosso coração. O namoradinho mais querido de todos. De Ró – mamãe agora! Do papai… Vovó… Vovô… Titios…
João…
Que alegria você traz para todos nós!!! Pra mim.
Te amo, meu bebê!!!

…É. Valeu todo essa espera!
Pra mim foi muito mais do que sonhar
Foi mais que viver
Foi mais que esperar
Foi mais que sorrir
Bem mais que te amar
Foi mais que querer ouvir sua voz
– Herança do Senhor para nós…

Vida de minha vida
Alma de minha alma
Estrela cadente – presente de amor sem fim
Quero te ver crescendo
Cada vez mais sorrindo
Meu fiho amado – pedaço de mim.

É… valeu todo esse tempo
Enfim poder olhar pra teu olhar
E ver sem querer
Que é quase sem fim
Que tudo em você é um pouco de mim
E como é pra mim
Sim Deus há de ser
Exemplo e razão do meu viver…

Obs. 1. Música de João Alexandre e Guilherme Kerr.
Obs. 2: Apenas reeditando. Isso reflete bem o sentimento que nos visita hoje com sua chegada, João. Te amo muito!!!
Obs. 3: Que injustiça com o Ronaldo! Aqui pra nós: gordo é o JOÃO! Xiiiiiiiiiiii. Rs.

Pensando melhor…

Ontem vi no Jornal Nacional uma matéria enorme sobre os ‘baderneiros’ de Brasília.
O pessoal ligado ao Sem Terra, destruindo tudo. MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra).
Não se justifica a agressão, a guerra. De fato.
Mas pensemos do ponto de vista deles:
Idosos, mulheres e crianças. Isso foi devidamente frisado por aquele telejornal. Além de homens. Umas trezentas pessoas.
Vindos geralmente do Nordeste, desde quando se entende que a zona rural não vale nada, não vale a vida e que a cidade – de preferência a cidade grande – iria possibiliar-lhes perspectivas.
Aliás. Coisa que nunca tiveram.
Há uma peculiaridade na exclusão brasileira. Os indivíduos são excluídos de que nunca possuíram. Não possuem o que nunca tiveram.
Sem terra. Sem chão. Sem direitos. Sem cidadania. Sem nada.
Quais são mesmo os dispositivos legais para a reforma agrária e para a tão aclamada justiça social? Eles têm sido cumpridos?
A Folha Online de 13.05.06 afirma ” MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra) não conseguiu entregar sua pauta de reivindicações para o ministro Antonio Palocci (Fazenda). Um grupo de 12 coordenadores do movimento tentou levar o documento no gabinete do ministro, mas foi impedido.”
O telejornal acima referido entrevistou e publicou a afirmação de um político de que o presidente Lula “ainda” recebe e conversa com essas “pessoas” (E, a propósito, são gente, gente?!) .
Pelo menos humano nosso presidente é.
Gosto de pensar – como na história de Alice no País das Maravilhas – do ponto de vista do rato.
O gato é um opressor.
Como somos.
Ponto.