Palestra sobre Aleitamento

Como Psicanalista Clínico e como Pedagoga, tenho feito palestras sobre vários temas. Um deles, para meu completo deleite, é sobre Aleitamento, para um grupo de mulheres grávidas, na Casa Paroquial da Igreja Católica – Matriz, aqui em Jequié – BA.

Tenho particular preferência para trabalhar com mulheres. Mas que delícia é lidar com um tema que envolve mulheres, bebês, aleitamento, gravidez, vida. É definitivo que isso me enche o coração de alegria.

Como sempre, vou trabalhar uma palestra participada, tendo figuras nos slides – nada de texto. Esse tipo de apresentação não cansa aos ouvintes e nos dá liberdade para falar sobre os vários aspectos das figuras. Claro que sempre priorizo a técnica e a teoria. Mas acima de tudo, nos minicursos estão presentes, sempre, vários aspectos que nos permitem trabalhar todas as possibilidades de aprendizagem.

Para quem aprende vendo, teremos a utilização de manequim da mama e uma boneca, para simularmos as mamadas e posturas ideais para que o momento seja completamente satisfatório tanto para o bebê quanto para a mamãe. Além das figuras utilizadas nos slides.

Para quem aprende escutando, teremos música e a própria palavra – minha e das ouvintes-participantes. Além disso, acabei de fazer uma letra de música e espero que Joe Edman tenha tempo para musicá-la.

Para quem aprende falando, a própria participação das mães será de bom tamanho para, pelo menos, tratarmos de tão importante assunto com alegria, descontração e eficácia.

A música é, portanto:

Meu bebê, meu bebê, gosto tanto de você
Meu bebe, meu bebê, gosto de você.

Pra mamar, pra mamar
O leitinho pronto está
Pra mamar, pra mamar
Eu vou perto estar

Eu te dou segurança
Que satisfação
Quero ter para sempre
tanto amor pra dar.

No meu peito, todo amor
Tanta proteção
Cuidarei de você

Quem sabe as mães, aprendendo esta música, possa cantar para seu bebê, fazendo do ato de amamentar um ato mais fascinante ainda?

Certamente nosso encontro será extremamente saudável e prazeroso para mim, para as grávidas e para seus bebês, embora ainda estejam na barriga.

Outubro ressignificado


Instituíram que outubro é nosso mês, o mês das Crianças.

Vamos aproveitar o embalo para tentarmos ressignificar – diriam os Psicanalistas – os vários bichos-papões desse momento que está mais para Hallowen do que propriamente para o mês dos pequeninos, que precisam de paz e sossego para dormirem bem e terem seu desenvolvimento saudável. Já ouvi dizer que não é bom atormentar os ânimos dos pequenos com estórias ou histórias monstruosas.

O FMI e o Banco Mundial estão em reunião lá longe. Num mundo tão tão distante daqui do Brasil. Eles seriam, para facilitar a compreensão da gente, como o Lobo Mau. Mas um é o Lobo Mau da Chapeuzinho Vermelho. Tem lá suas próprias características. Já o BM, não. É o Lobo dos Três Porquinhos. A gente leva a vida inteira sem saber se são diferentes, embora lá no fundo a gente desconfie que são a mesma coisa. Quem poderia nos explicar melhor, Senhores economistas?

Depois vem a queda do dólar que não pára de cair, assustando o mundo inteiro. A queda do dólar, dizem, começou junto com a crise imobiliária nos Estados Unidos. Isso nos faz lembrar dos três porquinhos e seu velho problema com habitação?

Há pouco tempo nós pensaríamos em ficar felizes com o evento da queda do dólar, visto que estaríamos vendo a derrota da Madrasta que sempre quis roubar de nós nosso querido papaizinho-poder – que nos dava a impressão de que nos amava de verdade. Mas agora a gente não pode querer que a rica Madrasta se prejudique pois isso vem acontecendo há algum tempo e a gente fica desempregado, com sérios problemas econômicos mundiais. Como assim, D. Madrasta? Você nos ensinou que se lhe obedecêssemos nós íamos nos dar bem. Eu não estou entendendo mais nada.

Desde a história de Joãozinho e Maria nós andamos sendo enganados pela Bruxa Má. Ela nos dava comida dizendo que íamos engordar mas no fundo ela queira mesmo era fazer de nós um prato suculento. O vínculo entre a Bruxa Má e a Má-drasta foi estabelecido para sempre no nosso inconsciente coletivo: nós temos medo de vocês e pronto.

E a China que anda dificultando as coisas? Até pouco tempo vocês só tinham os olhinhos fechados e uma cultura rica e interessante que nos fascinavam. Agora andam querendo controlar e já são a Segunda Potência Mundial. O mundo inteiro está pedindo que flexibilizem os direitos humanos e vocês – talvez por terem mesmo os olhinhos tão bonitos mas tão fechadinhos, não nos atendem. Os Lobos acima lhe pedem tanto, meninos! Pelo menos nesse sentido, ouçam-nos! A estrada, certamente, neste caso, não será a mais curta, não!

Até então o que eu sabia de flexibilidade estava ligado ao tapete voador. A gente, com ele, podia deslizar de um lugar para o outro com grande prazer e era muito rápido. Agora esse tapete tem outro nome e não é tão agradável como outrora. É a ciranda especulativa que ora quebra os senhores das potências mundiais, ora lhes dá mais poder do que nunca. No mínimo esse tapete atualmente nos gera medo e ansiedade.


Então a Bruxa Má, os Lobos, as Madrastas mundiais e todos os bichos que nos amedrontavam outrora tomaram outros e novos rumos, formaram outras e complicadas histórias nos levando a medo e a ansiedade. Medo pelo que já vimos acontecer à nossa frente como desemprego, inflação, recessão, apertos de todos os lados. Ansiedade por não sabermos como será daqui para frente.

Olhar pelo aspecto do bom humor e da esperança por dias melhores já me ajuda a conviver com tudo isso. Mas se eu já não estou conseguindo ressignificar ou elaborar tantas informações amedrontadoras, por favor, parem de nos contar essas histórias macabras ou vamos precisar de muito mais divãs para darem conta de nossas emoções! É noite mundial e eu preciso dormir. u

Ver o mundo em cores

Valho-me das comemorações sobre o dia das Crianças para iniciar meu texto para esta edição de outubro sob forma de conto. Um conto em primeira pessoa. Varriam minhas memórias alguns dos episódios mais felizes da minha vida, como um exercício de autoanálise e “tim-bum!”, veio a história de nossa primeira televisão colorida.

Nosso acesso, até então, à cultura mundial era através das imagens em preto e branco de nossa velha e grande TV. Todas as imagens eram pretas, brancas e cinzas. Cinza claro, cinza escuro, cinza muito claro e outros tons de cinza, mas tudo – tudinho mesmo – cinza. Era o mundo, sim, mas havia algo diferente da vida real. Faltava-lhe algo.

Um dia, subitamente, papai chegou em casa com uma grande caixa contendo nossa primeira Televisão a cores. Nós descemos a ladeira de onde morávamos correndo, para contar à nossa mãe o grande presente que tínhamos ganhado. Quanta alegria ao saber que, a partir de agora, as imagens seriam coloridas. Nós, definitivamente, não tínhamos muita noção de quão belas seriam, a partir de agora, as imagens desfrutadas por nós, mas posso indicar aquele como um dos melhores dias de minha vida infante. Não pelo sinal de ascensão social que aquilo significava, mas pelo simples prazer de saber que teríamos histórias mais enriquecidas e belas. Dentro de nossa própria casa.

Outro dia Marcos, meu irmão, reclamava que tínhamos de ter lido mais livros na infância. Pontuei que sim, mas nossa leitura visual também não fora tão empobrecida, tendo em vista os programas educativos que, ingenuamente, escolhíamos. Preferíamos, por exemplo, a qualquer outro programa, as velhas e boas edições do Sítio do Pica-pau Amarelo. Aquelas ‘leituras’ nos faziam viajar longe, muito longe, à países, linguagens, culturas mil. Era bom. Serviram para nos instigarem, para nos fazer ir um pouco além. Conhecer, por exemplo, o Minotauro; as histórias da antiga Pérsia sobre o grande Califa, o Grao-vizir; a invenção das cores em tecidos; os camelos do ocidente… tudo aquilo nos embevecia e nos enriquecia sobremaneira. Eram como nossos primeiros passos diante da estética, do belo, da aventura do conhecimento. Era um outro mundo real e fictício, imaginário.

Hoje nossa visão de TV recebe roupas de criticidade e já sabemos que, de um modo geral, tudo o que vemos ou ouvimos precisa passar pelo crivo da consciência, da maturidade intelectual. Não se trata de desconfiar de tudo de um modo patológico, mas buscar compreender os diferentes pontos de vista, deixando de lado a visão ingênua e infantil de crer em tudo o que se fala na grande mídia. Nossa leitura já ultrapassa a telinha, vai um pouco além do que se quer nos impor, mas o vínculo primário com o que é belo, com o que nos faz transcender está estabelecido.

Há um humorista inglês que diz que considera a TV um dos maiores instrumentos de educação. Enquanto alguém liga o aparelho na sala ele se retira para outro ambiente. Isso vale, sim, para a maioria dos programas atuais, incluindo aí a maioria dos programas de jornalismo rápidos e tendenciosos.

Independente da mídia, queremos para nós e nossa futura geração – e também para nossa própria geração – gente que pense, que reinvente o mundo a partir do que já temos,com criatividade, criticidade, maturidade, beleza e alegria.