Cogito, ergo sum

Sim, Sr. Descartes… “Cogito, ergo sum.”
Mas com muito respeito, quero pensar o contrário do que o Senhor afirma…
Eu existo e penso a partir de então.
A consciência talvez venha depois de minha própria prática de vida.
Se tenho instrumentos à minha disposição, se possuo saúde, se estou bem alimentada… tenho uma visão específica acerca do meu próprio ser.
Não querendo me fechar num materialismo que me reduza como pessoa nem querendo ser uma adolescente reivindicadora – tipo aqueles ditos ‘rebeldes sem causa’, penso que sou a partir do meu não-eu e das circunstâncias que me cercam.
Também sou a partir do que tenho e especialmente do que não tenho.
Pensar requer… insônia. Existe nesse nosso mundo capitalista onde pessoas são quase coisas (especialmente se essas ‘coisas’ são mulheres) que me forçam a estar às 3:00 horas da matina sentada aos pés de minha própria cama, sem sono, questionando a existência humana. Logo, pensando. Talvez em plena concordância com sua idéia até mesmo. Logo… pensando.
Temos uma das constituições mais progressistas do mundo (?).
Que se faça, então, justiça a favor de quem se equivocou com a idéia criada de que a cidade era melhor que o campo e veio para cá sem qualquer condição de vida digna.
Ou então foi erro de escrita, ortográfico mesmo. Seria: o cidadão tem direito à moradia ou à saúde ou à educação… Colocaram vírgula entre as necessidades como se a todos fosse dado, de fato, o direito à saúde, educação, moradia… As vírgulas indicam direito ao conjunto de valores, necessidades humanas como está preescrito no Art. I da nossa Constituição de 1988.
Meu pensamento é reduzido por uma máquina ideológica pesada demais sobre mim que quer e força que eu seja igual à medida do que ela mesma me impõe.
Sou fruto, sim, da indústria cultural da qual Adorno fala.
Ouço a música que não gostaria de ouvir e estou de calças jeans embora more num país tropical e resida numa cidade em que, exceto no inverno, a temperatura toca os 45º.
Minhas incoerências e intolerâncias partem de mim e seu limite parece estar numa sociedade hipócrita à qual pertenço, que se contenta em empregar Fulano porque tem níver superior, embora nem verifique (não tenha tempo para isso!) que tipo de curso ele faz, se ele é avaliado para justificar apenas o valor da matrícula e das salgadas mensalidades que estão acima triplicadamente do valor que o Congresso Nacional indicou para ser seu salário.
Isso sem falar do peso dos EUA e seus modismos – um deles acima citados – sobre mim. Eu uso jean e a turma jovem da Rússia, antiga União Soviética trocou suas boinas quentinhas pelos coloridos bonés norte-americanos.
Ai, que frio!
Boa noite. Se for possível.

‘Ubuntu ungamntu nganye Abantu”

“UBUNTU UNGAMNTU NGANYE ABANTU”

“Pessoas são pessoas através de outras pessoas”
(Ditado Xhosa – língua materna de Nelson Mandela)

Eu tenho a honra de ter sete irmãos. E onze sobrinhos. E, lógico, um pai e uma mãe.
Hoje nosso dia foi extremamente corrido:
Minha mãe acordou cedo e preparou para mim um maravilhoso café da manhã. Apesar de estar com a casa desorganizada por causa de uma reforma.
Comecei a trabalhar bem cedinho para ajudar a concluir um trabalho de Ivana da faculdade. Muita pesquisa e… pronto: onze páginas escritas. Ufa! Essa me cansou muito.
Neto, depois de ir à concessionária ligou pra resolver papéis da troca do carro. (Agora estou com um Celta!). E eu fiz um empréstimo de um objeto a ele.
Mainha precisava de um documento para atualizar sua pensão. Ivana e eu nos movemos a ligar para o Rio de Janeiro e depois de muitas tentativas, conseguimos finalmente o fax do que precisávamos.
Ivana providenciou uma marmitinha gostosa para mim. Eu a peguei e levei para a casa de meu pai que compartilhou com Paulo o seu almoço.
Fui ao encontro do Conselho de Meio Ambiente, participei da reunião de três horas sobre a legislação ambiental de Jequié e já que Zé Roberto – meu irmão mais velho – também é conselheiro de lá, ao final, pegou uma caroninha minha (no Celta! rs) até o fórum para resolver umas questões de Marcos – meu irmão caçula – e de Tércio, meu primeiro sobrinho.
Neto ligou para a seguradora para finalizar a segurança do carro .
Ivana foi com mainha ao cartório para finalizar a documentação da pensão e com certeza foram também ao cartório para enviar ao Rio toda a papelada.
Falei com minha irmã Ione e ela está bem.
Faltou o quê? … hum. Um monte de coisas. Além do meu trabalho normal, hoje foi um dia corrido para todos nós.
É quase sempre assim: um atende ao outro em suas necessidades, além das brigas de irmãos mesmo.
(E Marquinhos ainda vai ter de me emprestar dinheiro para pagar o tal do carro. Rs).
Todos eles: uma delícia!
Viver assim vale a pena.
Ah! A propósito, você se lembra daquela música de Gonzaguinha?

Caminhos do Coração

Gonzaguinha

Há muito tempo que eu saí de casa
Há muito tempo que eu caí na estrada
Há muito tempo que eu estou na vida
Foi assim que eu quis, e assim eu sou feliz
Principalmente por poder voltar
A todos os lugares onde já cheguei
Pois lá deixei um prato de comida
Um abraço amigo, um canto prá dormir e sonhar
E aprendi que se depende sempre
De tanta, muita, diferente gente
Toda pessoa sempre é as marcas
Das lições diárias de outras tantas pessoas
E é tão bonito quando a gente entende
Que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá
E é tão bonito quando a gente sente
Que nunca está sozinho por mais que pense estar
É tão bonito quando a gente pisa firme
Nessas linhas que estão nas palmas de nossas mãos
É tão bonito quando a gente vai à vida
Nos caminhos onde bate, bem mais forte o coração

Chapada Diamantina


Gente!!!
Isso aqui é apenas um ‘taquinho’ da Chapada que eu gostaria de mostrar.
Quem quiser fazer turismo ecológico venha à Bahia. Lugar melhor e mais lindo que esse… tô pra ver.
Esse despenhadeiro aí – que a gente não consegue ver o fundo de tão alto que é – faz parte do caminho que leva à gruta da Lapa Doce. Um exagero da natureza!
Dá medo.
É liiiiindo!


Tempus Fugit. Carpe Diem

Raramente leio os infindáveis textos que nossos amigos e ‘amigos’ nos enviam todos os dias, acarretando nossa caixa de e-mail; mas hoje cedinho acabei lendo um texto que deveria ter sido escrito por mim. Quero transcrevê-lo inteiro aqui: minha cara. Valeu Gondim!

Tempo que foge!
Ricardo Gondim
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.
Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos. Não gosto de assembléias ordinárias em que as organizações procuram se proteger e perpetuar através
de infindáveis detalhes organizacionais.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de “confrontação”, onde “tiramos fatos à limpo”.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.
Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ou sobre as diferentes traduções da Bíblia. Não quero ficar explicando porque gosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Minha resposta será curta e delicada: – Gosto, e ponto final! Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.
Já não tenho tempo para ficar dando explicação aos medianos se estou ou não perdendo a fé, porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a “última hora”; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus.
Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo.
Soli Deo Gloria

Todo dia era dia de índio.

(Respondendo ao questionamento de Joe Edman, o homem mais importante de minha vida, no seu aniversário: Quem deles é Joe Edman?)

Os dois – você, cara-pálida!
Índio pequeno.
Menino dengoso que gosta de chamego e colinho.

Homem grande.
Guerreiro. Forte.
Sabe o que quer.

Amo.
Pronto.
Ponto.

Feliz aniversário, Joe.

Ponto de vista – o olhar sob um ponto.


Hoje eu passei a noite na casa de minha irmã Ivana.
Ela mora no mesmo bairro que eu: um lugar alto. Penso que moramos nos morros mais altos da cidade.
De lá, podemos ver quase toda Jequié.
Jequié é uma cidade que está numa zona de transição.
(Quiçá fosse assim também em sua política! Não vejo muitas perspectivas de mudança!)
Temos zonas de caatinga, mata de cipó.
Também há a zona da mata. Uma delícia de lugar.
Indo à Ilhéus, você passa por Jitaúna, Ipiaú… outras cidadezinhas. E percebe já a Mata Atlântica!
Já no bairro do Mandacaru, pode-se perceber os galhos retrucados, típicos das matas de cipó.
Estamos no sertão.
Poético, não é?
Neste cantinho de interior da Bahia.
Interior do Nordeste.
Faz calor, sim, nesta cidade.
Mas quando vem o inverno… Hungr! Faz frio. Sinceramente! Há pessoas que não acreditam.
É curioso o clima entre a caatinga e a mata.
Muito calor…
Quando faz frio, faz frio (repito!).
Estar na casa de minha irmã, como ia falando, significa poder refletir sobre os diferentes pontos de vista das pessoas.
Num mesmo bairro. Praticamente na mesma rua, nós duas moramos.
Eu olho, de minha casa, a Matriz, as praças, a Primeira Igreja Batista e a casa onde funcionava o antigo INPS. (Isso deve ser sigla de Instituto Nacional de Providência Social, não me lembro… Hoje temos o SUS!).
Vejo de lá o centro da cidade, o barulho dos carros.
Tudo parece bem diferente do que é na casa de Ivana.
Claro! Estamos em diferentes perspectivas: eu e minha irmã. Ou eu e eu. Quando estou em minha casa eu vejo a vida, a cidade de um jeito. Na casa de Ivana, as coisas tem outras formas. Percebo outros ângulos que antes não conseguia identificar.
Eu me lembro de um fato em Alice no País das Maravilhas. Lá há um gato que vive perseguindo um ratinho. A pergunta é: você gostaria de gatos se fosse um rato?
Ouvi um pensador – não me lembro quem – afirmar que o ponto de vista é sempre um olhar sob um ponto.
Meu ponto de vista será sempre reduzido. Limitado, portanto.
Talvez isso explique porque somos tão intolerantes com o outro. Por que somos tentados e pensar que somos melhores que o outro e alimentamos tanto tantos preconceitos. Os lingüísticos, os de raça, os de credo, os de posição econômica até.
Estar numa cidade pobre e sofrida me permite pensar assim: preciso lutar contra mim para poder compreender o outro como ele é e aceitá-lo.
As cactáceas de minha cidade de ensinam isso: ainda que a vida seja seca e difícil, posso produzir flores. Posso alimentar meu irmão e/ou ser simplesmente um referencial importante na abertura de sua visão.
Que minhas percepções, certezas e concepções não me tentem a me ver maior ou melhor que eu sou.