INTERPRETAÇÃO DE SONHOS


Longe de terem uma explicação mística, os sonhos são uma forma de termos acesso ao nosso inconsciente. E é justamente para isso que a Psicanálise serve: se tenho acesso às causas de meus impulsos interiores desconhecidos, poderei dar consciência ao que está recalcado, escurecido, incompreendido e assim, terei mais maturidade e capacidade de lidar com minhas dificuldades emocionais e pessoais.

Para cada pessoa, cada sonho terá um significado especial, dependendo da história de vida, da condição sóciocultural e do conjunto de valores de cada um. E ter acesso a esse tipo de conhecimento trará o inconsciente à consciência, gerando em mim maturidade emocional.

É preciso considerar que sempre haverá um motivo, uma razão, para justificar nossas fraquezas, limitações e impulsos. Não para nos justificar ou redimir, mas para nos dar uma direção consciente, apropriada e equilibrada ao nosso modo de ver, agir e pensar o mundo.

Revelar o inconsciente e trazê-lo à consciência é um processo por vezes dolorido e difícil, mas os resultados são especialmente bons para nossa saúde mental e emocional. Se meus sonhos me dão esse prêmio, se trabalhados devidamente, eu preciso analisá-los.

Conforto


Apesar de estar absolutamente na moda a dica de “sair da zona de conforto” e enquanto todo mundo corre para garantir seu lugar ao sol nesse nosso mundo capitalista que nos impõe obrigações em prol da sobrevivência e de sempre ter mais, vale a pena pensar um pouco sobre um tipo de conforto que não esteja ligado ao que a gente comumente pensa. Quero discutir conforto do ponto de vista imaterial, intangível, necessário e indispensável ao nosso bem estar emocional. Aquilo que dá sabor e cor à nossa existência.

Quando a gente é pequeno é mais fácil. Excetuando-se um ou outro caso em que prováveis fatalidades podem ter ocorrido, a gente teve o colinho da mãe ou de outra pessoa que nos tenha feito a maternagem da qual necessitamos para nosso normal desenvolvimento individual e emocional.

Sem choramingos, todos nós tivemos sim alguém – um pai, uma irmã, um tia, uma babá – que cuidou de nós, nos limpou, que nos ajudou a crescer e a construir aos poucos nossa identidade pessoal e emocional. Ideal ou não, tivemos cuidados especiais senão não estaríamos sequer vivos. O bebê humano precisa disso para viver.

Mas a gente cresce. E embora se desconfie que há, vez por outra, quase que por pura carência afetiva, uma extrema necessidade de receber e dar um abraço apertado em alguém, de receber um toque respeitador, um olhar afetuoso e não julgador, raras vezes a gente organiza a idéia do quão importante é um abraço quando adultos.

Quando abraço, ao mesmo tempo sou abraçada. Nesse momento as minhas exigências internas tem contato com o mundo externo. Talvez aí mesmo eu encontre a ponte entre a minha subjetividade e o mundo objetivo, equilibrando, assim, minhas emoções. Isso nos dá chão e nos equilibra.

Mas o adulto pode ser tentado a pensar: se sou uma pessoa adulta, não preciso mais de acolhimento. Nem preciso dar ao outro, ao meu não-eu, um pouco de afeto. Isso se intensifica mais ainda quando se tem o hábito de sensualizar as relações. Grande prejuízo para nosso viver.

Adultos, adolescentes, idodos e crianças necessitam de apoio emocional – mereçam ou não. Precisamos de cumplicidade, de carinho, de cuidados, de um lar que nos promova segurança, afeto, o mínimo de consciência de que não estamos sozinhos no espaço e no tempo. Se meu lar não me dá essa noção, preciso criá-la. Com minha criatividade. Com disposição e coragem. Mesmo que seja só daqui pra frente. Sempre há tempo para refazer as histórias.

Gosto de ler Dr. Winnicott (1) pontuando a importância do cercadinho. Gosto de saber que somos seres dos outros. Gosto de saber que, por exemplo, sou de minha irmã e ela é, de alguma forma, minha. Gosto pensar na idéia de que, aos poucos, desde o abraço da mãe, indo para o bercinho, para o cercadinho, partindo do aconchego familiar, da primeira escola, até os primeiros contatos sociais vou adquiririndo minha independência pessoal e meu jeito próprio de ser. Vou amadurecendo a partir do outro, sempre.

É no outro que podemos ter apoio emocional. É a partir da minha relação com o outro que me vejo e me faço gente. É a partir dele que acolho e sou acolhida, apesar (muitas vezes) de nós mesmos e nossas tão frequentes falhas, fragilidades e equívocos.

Ref.: (1) D. Winnicott – A família e o Desenvolvimento Pessoal.