A Ciência afirma que quanto mais jovens forem as células de nosso corpo, mais capacidade elas possuirão para se reproduzirem. Ora, se as células cancerosas também possuem alto poder de reprodução, pela metástase, o envelhecimento das células seria, então, uma forma de não se auto-reproduzirem, de não se auto-destruírem, ou seja, de não morrerem. Para facilitar ainda mais nosso raciocínio, podemos afirmar que envelhecemos, no nível celular, para não morrermos. Que bom!
Envelhecer, portanto, tem a ver com a possibilidade de estar vivo e com saúde. Envelhecer é algo sublime. É saber-se vivo, podendo olhar para trás e perceber quantas experiências foram vividas, quantas aprendizagens internalizadas, quanto você conseguiu produzir, qual o patrimônio cultural que foi construído pela sua família, pelo seu grupo de amigos, pela vida social que você desenvolveu ao longo do tempo. Além de olhar para trás, é o momento de ir adiante, de ter sonhos, de fazer planos, de recomeçar a vida, quem sabe?
Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) já indicam que o Brasil é um futuro país de idosos. Em todo o canto já se vê clínicas para a idade da experiência, casas de tratamento, asilos de luxo (ou não) e até casas de show e eventos voltados para a Feliz Idade. Isso, nas grandes capitais. Nos interiores também, aqui ou ali, já se despontam ações, grupos, eventos, produtos apropriados para que essa fase da vida seja um momento cheio de comodidade, saúde e conforto.
Há também o outro lado da moeda, que não é tão feliz. A idade pode acarretar limitações no corpo, convívio deficitário com a família, dependência financeira. Além da infeliz compreensão por parte da maioria da pessoas (por puro preconceito) de que o idoso não tem voz nem vez. Apesar do tão conhecido Estatuto do Idoso que lhe dá direitos, a importância, de fato, desse sujeito que pertence às nossas famílias não é, quase sempre, reconhecida. Esse fator produz prejuízos à nossa sociedade, tristeza e até depressão aos nossos velhos.
Vale a pena lembrar que a criança, ao nascer, já está envelhecendo. Não há uma idade definida para começar a envelhecer. O Estatuto do Idoso sinaliza a Terceira Idade a partir dos 60 anos, mas a gente, todos os dias, vai mudando a pele, os cabelos, o corpo. Muito rapidamente as alterações físicas vão aparecendo e, ao menos que você morra, os dias, através do tempo, vão citando sua sentença inevitável: nós todos, vivos, estamos envelhecendo.
Se confunde velhice com morte. Morte é o fim da vida. A velhice, não. O idoso que sabe viver, normalmente, percebe quanto é bom estar vivo, quanto vivo ele está. Ele conecta bem sua história de vida, resgata as boas experiências, identifica o que foi bom, elabora o que não foi tão bom. Reedita alegrias, relembra o passado mas segue adiante para um futuro cheio de sonhos e planos. Enquanto há vida, para o sábio idoso, há esperança. Há alegria. Há sonhos, Há vida! E quanta sabedoria a gente pode encontrar na fala dos nossos queridos avós, tios, conhecidos…
Eu não sou totalmente contra plásticas, cuidados com o corpo, vaidade. O que não entendo, embora respeite a opinião de quem o faz, é a luta por não envelhecer. É o pavor da idade. A negação de que os dias se passaram e hoje tenho mais rugas do que ontem. É o pensamento de que ser belo é incompatível com ser idoso.
É possível, sim, ter vida de qualidade na idade. É possível se cuidar desde já com atividades físicas, com vida social ativa e saudável, com alimentação cuidadosa. Quanto for possível. Mas ainda insisto que a qualidade de vida na Terceira Idade está muito ligada à decisão do idoso de manter seus planos e sonhos, de desejar viver bem e fazer isso se tornar um fato com decisões inteligentes e apropriadas. Embora para a maioria dos idosos não seja muito fácil, é possível, sim, viver bem, com a idade que se tem.