Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais

A dor…
A dor que sinto no pulso
Nasce do sentimento de impotência
E de algum tipo de ira
Que me visita.

Li, ainda adolescente, com muito pesar o livro Brasil: Nunca Mais.
De uma forma drástica o autor contava os desmandos de um País dominado pelo medo, pelo pavor de pessoas que, insatisfeitas com o sistema perverso no qual viviam durante a Ditadura Militar dos anos sessentas, ousaram fazer algo. Pessoas que tentaram modificar aquela situação de injustiça e autoritarismo através de suas músicas, poesias, desenhos, pinturas. Qualquer meio de expressão serviria para denunciar a necessidade urgente de mudança até que veio a censura e… Quase ficamos sem voz.
Eu não sou dessa época especificamente.
Nasci em 1972. Quando o que vivíamos era – ainda – um processo de silêncio e uma lenta caminhada para a Democracia. A maioria dos adultos que conheci eram pessoas de boa conduta moral e relativo sentimento cívico.
Todas as sextas-feiras nos enfileirávamos a frente da Bandeira Nacional e, com a mão estendida sobre o peito esquerdo, cantávamos: “Verás que o filho teu não foge à luta.”
Nos anos 80 conseguimos, finalmente, o direito de escolher nossos representantes e sonhar que, agora sim, teríamos voz e vez. E vivemos emocionantes momentos com os Senhores Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, dentre outros.
Acabei de assistir a algumas curtas-metragem. Um deles mostrava várias janelas o tempo todo e contava algumas histórias de pessoas que viveram clandestinamente no período da Ditadura. E que mesmo depois desse momento político não conseguiram mais recuperar suas identidades. Uma lástima!
Uma das personagens entrevistadas afirmou duas coisas que me fizeram vir aqui escrever.
A primera marca que me deixou foi a de anunciar o sentimento que lhes invadia quando ouviam dizer que alguém estava desaparecido. Ela afirmava que ninguém sabia se esse desaparecido já teria sido morto pelos militares, se estava sendo continuamente torturado ou se iria aparecer algum dia, matando as saudades dos seus queridos.
A segunda foi a afirmação: meus anseios daquela época são os mesmos de agora.
Ora! Não vivemos a tal da Democracia? Perguntaríamos!
Eu desconfio que aquela mulher estava em poucas palavras questionando sobre que tipo de democracia temos neste País.
Uma democracia onde as pessoas são olvidadas ou preteridas.
Sistema político e econômico em que um Presidente da República sobe ao governo mas não alcança o poder porque tudo está em mãos dos banqueiros e das grandes potências internacionais, além dos interesses de grupos dominantes internos.
Onde nossa humanidade é posta em último lugar.
Penso que ainda vivemos em tipos tão ruins como os daqueles dos Anos Sessenta: as imposições são ideológicas e estão acima do meu senso de humanidade. Quase não consigo suportar! A mídia – em especial a “grande mídia”, a imprensa, as empresas, as propagandas, a poluição social.
( Gente, quem é que oferece nossos jornais mesmo, hein? São os banqueiros, é?).
Nossos valores sucumbem ou se balançam, não se firmam e vemos com naturalidade nossos irmãos passarem fome. Quase sempre até os culpamos por suas mazelas.
Preciso, então, repetir o poeta:

” Minha dor é perceber
Que apesar de termos feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos como nossos pais.”

Linda a cidade de Jequié!

Eu gosto do entardecer…
Muito.
Não é totalmente noite
Nem completamente dia
Uma mesclagem de luz com escuridão
Próprio para os românticos…

Quando eu era pequena ficava olhando à tardinha o pôr do sol.
Meu bairro estava em construção
E o sol se punha por detrás de um casebre que tinha
No alto do morro
Em frente à minha casa.
Era uma choupana… Sombreada por raios vespertinos
Quanta beleza!
Uma imagem digna de fotografia…
Digna de imortalidade.
Então construíram uma mansão naquele lugar
Que prejuízo…

O alto da Prefeitura Municipal
A repentina descida do Viaduto
A passarela que liga o Centro Industrial ao Joaquim Romão…
Linda a cidade de Jequié!
O canto da cigarra.

E se todo o tempo fosse o entardecer?
E pudéssemos contemplar a interface…
E o feitiço de Áquila fosse suspenso?

Haveria monotonia
Porque o belo é belo por sua escassêz.

A gente se desumaniza…

Se a gente acorda cedinho num dia como hoje, chuvoso, e nem se dá conta de que há alguém necessitando trabalhar e tem dificuldade de se locomover enquanto estou confortavelmente em meu carro, ouvindo música espanhola.
Se as desigualdades sociais são compreendidas por mim como uma fatalidade ou, pior, naturalidade e fruto da preguiça dos empobrecidos.
Se eu não percebo que os sistemas políticos e econômicos mundiais são cruéis e favorecem quase sempre apenas a alguns ricos em detrimento da maioria.
Se eu deixo escorrer pelas mãos a maior oportunidade para mudar de vida.
Se o sorriso de uma criança não me fragiliza ou se eu não fico sentida quando ela dança em sérios movimento sensualizados, ensinados por nossa mídia perversa.
Quando eu me limito a gostar das propagandas brasileiras sem questionar o apelo ao consumo que desmerece as reais condições sócio-econômicas da maioria de nossa população e a impele, em linhas gerais a um estado de insatisfação com o que ela própria é e possui, gerando desigualdades, ansiedade e violência.
Eu me desumanizo quando cometo ou permito cometerem preconceitos de qualquer sorte – inclusive o lingüístico. Os ricos do Brasil em geral não possui vasta cultura acadêmica, não conseguem valorizar a boa música, não extrapolam as imposições globais da mídia mundial mas pensam que sim. Resultado: a maioria dos preconceitos liguísticos é cometida contra pobres, empregadas domésticas, trabalhadores rurais, catadores de material reciclável. E eu ainda sorrio de sua culturalidade. (Marcos Bagno deveria ser conhecido por estes. Quiçá por nós todos).
Eu me torno menos pessoa quando julgo as pessoas pela sua roupa ou cor da pele. Por sua religião, por seu estilo de vida. Quando pre-conceituo comportamento e não compreendo as pessoas.
Quando nego um conselho que direcione em nome da lei que é feita em salas e móveis confortáveis e não leva em conta particularidades regionais ou específicas de muitas comunidades e/ou indivíduos.
Quando opto pela facilidade embora saiba que nem sempre o imediatismo resultará em benefícios para outros que estão à minha volta. Ou não percebo que, a longo prazo, nem mesmo para mim ele será necessariamente proveitoso.
Eu deixo de ser gente quando fecho os braços para quem precisa de mim. Mesmo homem grande. Mesmo menino pequeno. Mesmo o idoso carente. Mesmo a viúva ou o órfão.
Quando não olho nos olhos das pessoas e tenho mil desculpas para evitar-lhes.
Quando não peço perdão mesmo sabendo que eu provoquei a dor do outro.
Se não amo.
Se não sou gente.
Se não busco a minha própria humanidade.

Pode Zombar!!!

Pode zombar!


Tem gente que é esnobe mesmo!

Hoje de manhã ele veio de novo

Ficou um pouco em minha janela

De blindex

Aqui do trabalho.

Saltou, olhou pra mim..

Assoviou.

Zombou de mim.

Outro dia fez malabarismo sobre o sinal

(Daquele lá perto do SAMU)

E assoviou de novo

Livre, leve.

Solto.

Enquanto eu obedecia

Às regras de trânsito

Impostas a mim

Tanto quanto todas as outras.

Verde, agora.

Como quem também

Atendesse à ordem de seguir

Levantou vôo

E se foi

Rindo de mim.

É livre: nasceu livre

E zombador.

Vê-lo é lembrar

Que a liberdade é possível.

Inverno.2005.

Clonagem…



Há algum tempo encontrei esta preciosidade num dos jornais escritos daqui da Bahia.

Vale a pena ler:

Mary Had a Little Lamb

Mary tinha um carneirinho

Das Dores, um irmãozinho

Células anucleadas,

por pipetas penetradas,

promovem pluralidade,

provisões, perenidade.

Mary tem dois carneirinhos.

Das dores, dois irmãozinhos.

Clonagem, duplicação.

Duplicidade, carnagem?

Acomodam-se, em cercados,

os replicantes ovinos.

Empilham-se, favelados,

os replicantes meninos.

Mary tinha um carneirinho,

Das Dores, um irmãozinho.

Mary a (paz) centra o rebanho.

Dores olha os irmãozinhos e sente um pavor estranho…

Obliqüidade genética,

ilusão antipoética.

Procura-se, desesperadamente,

o gene da ética.

Gabino Kruschewsky – Advogado.

Jornal A Tarde – 06.10.98.

F-e-l-i-c-i-d-a-d-e


Ele chegou!
E está bem.
Que bom!!
Eu queria escrever muito hoje sobre esse sentimento que
me visita já que falo tanto das incoerências da vida e dou uma cara meio fria e seca ao meu blog… entretanto, pelo muito que falasse não conseguiria ser justa o suficiente.
Meu melhor amigo, meu companheiro. Meu norte.
O homem que é meu referencial: Joe.
Hoje tem festa!!! Vamos comemorar!