Sozinha

Sou sozinha.
Desde que nasci.
Penso que vou morrer assim.
Questiono meus amigos
E as pessoas que algum dia
falaram que não viveriam sem minha presença.
É como se tudo fosse de bola de sabão.
E você precisasse insistir
Na idéia de que o amor existe
Como se ela fosse aquele sapo chato
que a gente joga pra fora
E ele volta, amodrontando
Como um monstro selvagem
Com aquela pele rugosa
Feia e fria.

Meus amores se foram
Talvez por descobrirem
Que além da capinha de gente fina
Eu seja como um monstro,
cheio de surpresas feias
imprevistas.
Um a um…
A falha está em mim
Já sei.
O difícil é detectar porque o que parecia tão verdadeiro
Acaba destruído
Às vezes drasticamente
Outras, de forma lenta.
E a gente ainda
precisa crer na idéia de que o amor existe
Como se ela fosse aquele sapo chato
que a gente joga pra fora
E ele volta, amodrontando
Como um monstro selvagem
Com aquela pele rugosa
Feia e fria.
Tá. Um dia chega alguém que de verdade te aceite como vc é.
E talvez até tenha graça (toda vez tem!)
Apesar de você.
E você segue seu caminho só.
Como foi desde que nasceu.
Pensando que vai morrer assim.

JOÃO…

– …de repente, nao mais que de repente, as coisas mudam. somos invadidos por um amor incondicional!!!
– Ele é meu filho.
-…a paternidade é algo extraordinário… a maternidade então!!!!
– Algo divino!!!
– Coisa misteriosa da vida. Só Deus pra explicar. Arte d’Ele.
– Ficamos emocionados só em falar dele.
– que coisa!!!!
– mas é isso mesmo.
– estamos todos do mesmo jeito!!!
– Nada mais importante. Nenhuma atenção desviada dele… Nada mais sublime nesses dias todos.

Pedaço de diálogo entre Marcos e Ieda sobre João Marcos, transcrito literalmente em 23.05.06.

Tudo passa. Tudo sempre passará (?)


Ainda adolescente li um texto em que Freud discutia com um amigo sobre a transitoriedade das coisas. Os dois falavam sobre a beleza de um lugar florido, considerando que em pouco tempo a exuberante primavera cederia lugar à neve fria, sem cor e sem calor.
Gosto da idéia de Cristo acerca de seu primeiro milagre: o melhor vinho no fim da festa. Exatamente quando viria o cansaço, com o passar das horas, deveria vir o melhor gosto, a fina emoção da alma e a doçura do pensamento.
Voltando ao texto de Freud, ele afirmava que o belo existe e deve ser contemplado com vigor, ainda que efêmero. O que Cristo indica também me fascina: o melhor pode surgir mesmo que seja no final, quando não temos mais expectativas.
Na prática, para os mortais, parece não ser fácil compreender que o olhar apaixonado dos primeiros momentos de uma história de amor é inesquecível e assim, não transitório. Ao menos deveria ser assim.
Prefiro a orientação cristã que quer me convencer de que o que era bom pode ficar ainda melhor.
Isso significa milagre.
Paulo Freire dizia – amorosamente – que a história da gente não é um dado definido, acabado, determinado. é pos-si-bi-li-da-de.
Ah! …se a gente conseguisse, como Freud, manter a sensibilidade de desfrutar com grande prazer a beleza (mesmo que transitória), interferir na realidade de maneira amorosa e inteligente como Paulo Freire e transformar o bom no melhor da existência com cheiro de eternidade como Cristo…