Acessibilidade

Quase que a gente não valoriza a capacidade pessoal de se mover, de se deslocar; a menos que se tenha sofrido algum imprevisto ou, por qualquer motivo ou acidente, a gente se veja limitado ou impossibilitado de andar ou frequentar os lugares por onde as pessoas naturalmente andam, a gente não discute o assunto.

Nosso direito de ir e vir, garantido pela Carta Magna brasileira é, sim, constantemente limitado pelas muitas barreiras arquitetônicas de nosso País.

Este fim de semana estive observando em Salvador, nossa capital turística, as tantas barreiras que temos que enfrentar.

E fiquei pensando: estou aqui na rodoviária soteropolitana, com uma mala de rodinha e com alça (rs) e peno para chegar até o guichê e comprar a passagem. Há dois lances de escadas tanto no caminho que me leva do ponto do ônibus ao primeiro andar da rodoviária quanto deste espaço aos estandes de vendas das passagens.

E se eu tivesse alguma limitação física? E se eu estivesse de cadeira de rodas ou de muletas?

No Brasil há legislação que regulamente este estado de coisas. A Lei de acessibilidade – Decreto lei 5296 é relativamente novo (2004), mas já é hora de ser cumprida, ao menos nos espaços de grande movimentação pública.

Aqui em Jequié é simples perceber que todos os Planos Diretores elaborados até o momento contemplaram apenas os veículos. Há ruas – não todas! – pavimentadas e muitas delas estão asfaltadas até. (Vale ressaltar que os bons engenheiros civis entendem que esse tipo de cobertura das ruas aumenta a temperatura da cidade e a impede de respirar. Depois falaremos disso).

Os passeios possuem árvores que dificultam a passagem das pessoas que são obrigadas a disputarem com veículos automotores o espaço. Um perigo eminente!

Abaixo, faço questão de colar uma parte do Capítulo III da lei mencionada acima, que dispões sobre as Condições Gerais da Acessibilidade, para conhecimento dos meus dois leitores:

Art. 8o Para os fins de acessibilidade, considera-se:

I – acessibilidade: condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida;

II – barreiras: qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de movimento, a circulação com segurança e a possibilidade de as pessoas se comunicarem ou terem acesso à informação, classificadas em:

a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias públicas e nos espaços de uso público;

b) barreiras nas edificações: as existentes no entorno e interior das edificações de uso público e coletivo e no entorno e nas áreas internas de uso comum nas edificações de uso privado multifamiliar;

c) barreiras nos transportes: as existentes nos serviços de transportes; e

d) barreiras nas comunicações e informações: qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos dispositivos, meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa, bem como aqueles que dificultem ou impossibilitem o acesso à informação.

Além das barreiras, algumas soluções:

Art. 15. No planejamento e na urbanização das vias, praças, dos logradouros, parques e demais espaços de uso público, deverão ser cumpridas as exigências dispostas nas normas técnicas de acessibilidade da ABNT.

§ 1o Incluem-se na condição estabelecida no caput:

I – a construção de calçadas para circulação de pedestres ou a adaptação de situações consolidadas;

II – o rebaixamento de calçadas com rampa acessível ou elevação da via para travessia de pedestre em nível; e

III – a instalação de piso tátil direcional e de alerta.

Dentre outros direitos, vale a pena dar uma olhada em todo esse decreto.

Conclusão: direitos existem. Restam ser atendidos.

Um pouco de política. Um pouco de religião.

Confesso que tenho me esforçado para não dar a este blog caráter de confissão política ou religiosa.

A discussão sobre neutralidade, em qualquer espaço, suscita questionamentos dos mais relevantes. Se afirmar que sou neutra, já terei pontuado, desde então, minha posição sobre as coisas.

Dizem que quem cala, consente. A explicação passa mais ou menos por ai: se me “finjo” de neutra, estou é declarando que sou a favor do estado de coisas que se me vêm à frente.

Então eu grito, esperneio: não posso aceitar, não vou me adaptar! Não posso concordar com descaminhos, especialmente se estes prejudicam o ser humano, em qualquer âmbito de sua existência.

E sou alma. Como diria Joe: sou Luz.

Sou transcendentalizada. Relaciono-me comigo mesma e com outros. Tenho encontros com o Divino.

Enfim, sou gente.. Não posso me desvencilhar de minha própria humanidade.

Explicações à parte, ontem experimentei duas grandes alegrias: assisti à vitória do presidente Lula e ao Código da Vinci – Duas das minhas mais vigorosas expectativas dos últimos dias.

Quanto à primeira alegria, explico-me: um presidente nordestino, sem curso superior (apesar de ter recebido o merecido título de Doutor Onoris Causa), conseguir vencer o preconceito e a ira dos detentores do poder e alcançar, mais uma vez, o governo brasileiro realmente me deixa emocionada.

Além de propor um projeto de governo que, mesmo sem estar no poder, delineia uma proposta diferente da dos neoliberais para o País. Chegar ao governo não significa chegar ao poder, uma vez que quem manda aqui é mesmo o poder do capital. Os banqueiros que oferecem nossos jornais, as grandes empresas, as multinacionais que enfraquecem a indústria brasileira. Isso provoca a falência de nossas empresas que não têm forças para concorrer com tão imensos Golias.

Esmagar, pelo menos nas urnas, o orgulho da dita “elite” brasileira que, curiosamente, sendo detentora do poder, não mais consegue exercer sobre a população a sua própria vontade, com se fôssemos seres não-pensantes que tivéssemos que obedecer, para sempre, os mandatários. Como era no período militar: “se não obedecer, força brutal nele, até à morte!”.

A vitória de Lula, para mim, é a vitória dos pobres. Dos oprimidos. De quem nunca teve voz ou vez. De quem lutou contra a ditadura e é contra qualquer ato de autoritarismo ou opressão.

É como se os valores fossem invertidos e, agora, o pequeno e fraco vence ao poderosamente mais forte.

É óbvio que Lula, para vencer, tenha precisado fazer alianças e necessite agir com muito cuidado frente aos contrários à sua linha de governo. Os monstros são ferozes e andam ao redor, desejando devorar qualquer proposta negativa à sua vontade.

Não deve ter sido fácil resolver as questões brasileiras junto ao FMI. Não deve ser fácil investir em Universidades Públicas, se a agenda multilateral pretende que sejamos mão-de-obra barata e não especializada. Não deve ser fácil ver as tramóias da mídia comprometida com o capital que busca, de todas as formas, assumir o poder através de nossos governantes.

Não deve ser fácil posicionar-se contra o desejo perverso de privatizar todas as empresas nacionais.

A vitória de Lula é, para mim, a vitória contra os preconceitos que nós, todos os nordestinos, sofremos todos os dias. É vencer nossos maiores obstáculos mundiais e poder vislumbrar novas possibilidades.

A governabilidade exige, sim, que o Presidente assuma posturas, de um modo geral, ligadas aos poderosos, aos donos do dimdim. Mas uma luz aqui e ali se encontra em cada proposta do governo Lula.

Quanto ao Código da Vinci, claro que não sou expert em cinema nem vou me arriscar a fazer um comentário técnico sobre o filme. Quem sou eu?

Matei a vontade, gostei do filme, embora minha fé em Cristo não tivesse sido abalada. Nem um pouco.

Só achei curioso quando o Robert, ao apresentar seu livro sobre simbologias, requisitasse da platéia que fosse identificando o que significava, para a platéia, cada símbolo apresentado. Há um momento em que uma ouvinte responde em espanhol: “la cruz del diablo!” E o ator, apresentado pelo querido Tom Hanks, solicita imediatamente: “em nosso idioma!”.

É exagero meu ou uma outra língua (que não seja a inglesa) não cabe em espaços intelectuais?

Confesso que tenho me esforçado para não dar a este blog caráter de confissão política ou religiosa.

A discussão sobre neutralidade, em qualquer espaço, suscita questionamentos dos mais relevantes. Se afirmar que sou neutra, já terei pontuado, desde então, minha posição sobre as coisas.

Dizem que quem cala, consente. A explicação passa mais ou menos por ai: se me “finjo” de neutra, estou é declarando que sou a favor do estado de coisas que se me vêm à frente.

Então eu grito, esperneio: não posso aceitar, não vou me adaptar! Não posso concordar com descaminhos, especialmente se estes prejudicam o ser humano, em qualquer âmbito de sua existência.

E sou alma. Como diria Joe: sou Luz.

Sou transcendentalizada. Relaciono-me comigo mesma e com outros. Tenho encontros com o Divino.

Enfim, sou gente.. Não posso me desvencilhar de minha própria humanidade.

Explicações à parte, ontem experimentei duas grandes alegrias: assisti à vitória do presidente Lula e ao Código da Vinci – Duas das minhas mais vigorosas expectativas dos últimos dias.

Quanto à primeira alegria, explico-me: um presidente nordestino, sem curso superior (apesar de ter recebido o merecido título de Doutor Onoris Causa), conseguir vencer o preconceito e a ira dos detentores do poder e alcançar, mais uma vez, o governo brasileiro realmente me deixa emocionada.

Além de propor um projeto de governo que, mesmo sem estar no poder, delineia uma proposta diferente da dos neoliberais para o País. Chegar ao governo não significa chegar ao poder, uma vez que quem manda aqui é mesmo o poder do capital. Os banqueiros que oferecem nossos jornais, as grandes empresas, as multinacionais que enfraquecem a indústria brasileira. Isso provoca a falência de nossas empresas que não têm forças para concorrer com tão imensos Golias.

Esmagar, pelo menos nas urnas, o orgulho da dita “elite” brasileira que, curiosamente, sendo detentora do poder, não mais consegue exercer sobre a população a sua própria vontade, com se fôssemos seres não-pensantes que tivéssemos que obedecer, para sempre, os mandatários. Como era no período militar: “se não obedecer, força brutal nele, até à morte!”.

A vitória de Lula, para mim, é a vitória dos pobres. Dos oprimidos. De quem nunca teve voz ou vez. De quem lutou contra a ditadura e é contra qualquer ato de autoritarismo ou opressão.

É como se os valores fossem invertidos e, agora, o pequeno e fraco vence ao poderosamente mais forte.

É óbvio que Lula, para vencer, tenha precisado fazer alianças e necessite agir com muito cuidado frente aos contrários à sua linha de governo. Os monstros são ferozes e andam ao redor, desejando devorar qualquer proposta negativa à sua vontade.

Não deve ter sido fácil resolver as questões brasileiras junto ao FMI. Não deve ser fácil investir em Universidades Públicas, se a agenda multilateral pretende que sejamos mão-de-obra barata e não especializada. Não deve ser fácil ver as tramóias da mídia comprometida com o capital que busca, de todas as formas, assumir o poder através de nossos governantes.

Não deve ser fácil posicionar-se contra o desejo perverso de privatizar todas as empresas nacionais.

A vitória de Lula é, para mim, a vitória contra os preconceitos que nós, todos os nordestinos, sofremos todos os dias. É vencer nossos maiores obstáculos mundiais e poder vislumbrar novas possibilidades.

A governabilidade exige, sim, que o Presidente assuma posturas, de um modo geral, ligadas aos poderosos, aos donos do dimdim. Mas uma luz aqui e ali se encontra em cada proposta do governo Lula.

Quanto ao Código da Vinci, claro que não sou expert em cinema nem vou me arriscar a fazer um comentário técnico sobre o filme. Quem sou eu?

Matei a vontade, gostei do filme, embora minha fé em Cristo não tivesse sido abalada. Nem um pouco.

Só achei curioso quando o Robert, ao apresentar seu livro sobre simbologias, requisitasse da platéia que fosse identificando o que significava, para a platéia, cada símbolo apresentado. Há um momento em que uma ouvinte responde em espanhol: “la cruz del diablo!” E o ator, apresentado pelo querido Tom Hanks, solicita imediatamente: “em nosso idioma!”.

É exagero meu ou uma outra língua (que não seja a inglesa) não cabe em espaços intelectuais?

Ainda na infância


Tenho pena de quem nunca teve um irmãozinho ou irmãzinha com quem tenha brigado muito, aos tapas mesmo, e depois de tudo, tenha feito as pazes sob a orientação da mamãe.

Tenho pena de quem sempre teve tudo nas mãos e ainda hoje pensa que a vida deve ser segundo a sua própria vontade.

Admiro quem não teve carrinhos ou bonecas e precisou, para brincar, construir seus próprios brinquedinhos com paus e latas usadas.

Para mim é fundamental que se tenha, na infância, brincado muito com os pés no chão, descalços, para aprender que aquilo dói, mas é delicioso.

Subir em árvores, também.

Ir para casa comer ovo frito quando na casa da vizinha se viu bolos e quitutes deliciosos. Substituir alimentos também faz parte da aprendizagem da vida. Especialmente quando não se tem dinheiro suficiente.

Perceber, ainda pequena, que não preciso ficar revoltada se minha priminha, que tinha um pai cacauicultor, tem dois sacos de balas cheinhos cheinhos enquanto eu ganhei apenas duas das balas. Entender a desigualdade social desde pequena, com olhares ainda infantis, era necessário.

Acima de tudo compreender que há graça na existência, ainda que tudo me vá mal.

Porque viver bem era e sempre foi preciso.

Foto: fonte

Recomeçar (réplica do querido Rogério Rodrigues)

Oi amiga,

Li e gostei muito do seu texto intitulado RECOMEÇAR. Lembrei de uma velha música de nossa época: Começar de Novo do Ivan Lins

Você disse que sofre com o fim dos relacionamentos dos seus amigos. Sofra, mais se lembre do que diz o velho mestre Rubem Alves…. Algumas quedas são para cima, isto é, às vezes é necessário desconstruir para construir sobre novas bases … em novos lugares … com novas pessoas…

Bom seria se pudéssemos recomeçar sempre, com a mesma pessoa com quem um dia juramos viver eternamente. Só que a vida não é um conto de fadas ou final de novela da globo…. A vida é dura… e às vezes o amor, que o poeta diz que é infinito enquanto dura, acaba.

Não acredito naqueles que para este raciocínio afirmam categoricamente que se acabou não era amor, mais simplesmente paixão. É uma resposta muito simplista para a complexidade dos relacionamentos entre homem e mulher.

Lembra de Heráclito quando ele diz, que ninguém toma banho duas vezes no mesmo lugar? Realmente as pessoas não nascem prontas. Isto vale como argumento tanto para andar mais uma milha, como para ter a coragem de romper “a acomodação nossa de cada dia” que nos faz ficarmos deitarmos em nossa zona de conforto e covardemente reclamarmos de não termos perspectiva na vida.

Sou por natureza pragmático… às vezes, isto parece até duro… mas creio que precisamos planejar, tanto o início como o fim de algo… inclusive de relacionamentos desgastados…. para que o luto possa ser vivido da melhor forma possível…

Há, chega… este e-mail era apenas para elogiar o seu texto e aqui estou eu escrevo uma tratado…

………………………………………………………………………………………………………………………………………….

Obs.: Faço questão de blogar o texto do Rogério, meu amigo de adolescência, por quem tenho muita admiração.

Exatamente por ele ter muito mais experiência que eu na área – apesar de discordar dele em alguns pontos, acredito que vale a pena registrar, aqui, sua resposta.

Recomeçar

Eu gosto da idéia do recomeço.

Sofro com meus amigos a desconstrução de seus relacionamentos.

Pessoas que ainda ontem afirmavam que não saberiam como poderiam sobreviver sem seus pares, hoje os abandonam sem muita cerimônia.

Particularmente sinto que isso seja bem o reflexo de nossos dias. Fomos engolfados por um sistema perverso que, em nome da globalização, da velocidade e do consumismo, não nos permite assumirmos o trabalho intenso do aparar as pontas, de conter a intolerância e tratar cada desencontro – tão presente nos relacionamentos – com ternura e compreensão. Acima de tudo, muito diálogo e respeito em relação às diferenças de cultura. Não se pode esquecer que um veio de uma determinada família de costumes que vão ser fatalmente diferentes da cultura da família do outro.

Nos acostumamos a comprar delícias prontas nos supermercados. Eu quero um biscoito crocante? Lá na prateleira tem. Quero uma roupa bonita? Na loja tem! Mas não tem pessoas prontas, almas gêmeas. Isso, não.

Voltando ao assunto, de qualquer forma, é muito complicado entender que a gente muda tanto.

Um dia você ama o namorado ou a namorada até à morte. Se for preciso morrer por ele ou ela, você morre.

No outro dia você já questiona a relação, os sentimentos e conclui que estava equivocado. Que aquele defeito antes tão pequeno e quase imperceptível se tornou um gigante e nós, pequenos Davizinhos, não temos forças para vencê-los.

Um dia eu perguntei a uma colega de universidade como ela se sentia depois de ter passado por sete casamentos antes dos quarenta anos de idade. No fundo eu queria tocar na ferida dela. Ainda não entendia que não se pode “apagar o pavio que fumega”.

Sua resposta foi para mim um tapa com luvas. Luvas delicadas que me forçaram a rever alguns conceitos e valores: “eu me sinto completa porque sei que posso re-co-me-çar!”.

Naquela noite a idéia do gato Fênix, que ressurge das cinzas, ficou incutida para sempre em minha memória.

Como é que pode?

Numa das ladeiras que dá acesso à Igreja Matriz aqui em Jequié, no fundo de um quintal aqui do centro, havia um pé de eucapto. Que negócio impressionante! Aquela árvore imensa devia provocar desprazeres para os donos da casa que aplicavam, uma vez por ano, algum produto para que aquela planta se secasse até morrer. E ela insistia em ficar ali: ereta, bela, forte. Quase eterna. Meses depois surgia num de seus galhos, de novo, folhas verdinhas verdinhas…

Viver é preciso ainda que tudo pareça estar dando errado.

Ainda que meus planos tenham sido aparentemente frustrados.

Essa insistência necessária tem que impulsionar as pessoas para frente e para cima, sempre.

Foto: fonte

Estar na moda.

Aprecio um detalhe referente aos nossos costumes hoje em dia: de alguma forma, temos uma certa folga quando se trata de estilos, jeito de ser e, em especial, sobre o tipo de roupa que escolho para compor meu guarda-roupa.

É como se hoje, tudo fosse moda.

Tudo está no auge.

Eu, mulher, posso usar vestidinho, calça, shortes, bermudas, camiseta. Posso pôr um terninho até. Ou mesmo uma gravata.

Tudo está em uso.

E o bom é que não preciso me escravizar para obedecer aos apelos da mídia, embora ela exerça sobre mim com bastante força várias alternativas.

Tomara que não só aparentemente eu esteja vivenciando minha autonomia para escolher pelo menos o que visto ou o que calço.

Camila sempre me diz: você contesta tanto a moda imposta pela mídia e vive vestindo coisas do auge, da temporada.

Eu respondo rindo que, ao ir “escolher” uma roupinha nova, vi na vitrine algo de que gostei. E, gostando, comprei. E, ao comprar, acabei levando para casa algo que, coincidentemente, está na moda.

Há controvérsias acerca de se “estar na moda.”

Quando um ocidental usa terno e gravata ele está na moda. Então isso é construído culturalmente? Sim!

Mas o que eu critico – e não posso me calar quanto a isso – é a nossa obediência ao que nos é imposto todos os dias, como se fôssemos verdadeiras marionetes programados para dizer “sim” aos ditames das grandes grifes, às vitrines de um capitalismo perverso que não se importa se eu tenho ou não dinheiro ou condições de comprar aquele novo modelito.

Eu reclamo da carestia. Brigo quando querem me vender peças que, em termos de qualidade, valem tanto quanto outras que podem ser encontradas no mercado cinco vezes mais barato. Às vezes (acredite!) até dez ou vinte vezes mais barato.

Não compreendo como pessoas que trabalham por um salário mínimo conseguem manter cabides impecavelmente caros em detrimento de sua própria saúde e/ou alimentação de qualidade.

Quanta incoerência!

Os egípcios, por exemplo, usavam basicamente o mesmo tipo de roupa. Mas, para se diferenciarem uns dos outros, e para marcarem a diferença entre as classes sociais, eles criaram detalhes, aumentaram os adornos e acessórios como jóias e amuleto.

Então deve ser por isso que o povo se prejudica, mas tem que usar o que a atriz da novela das oito usou no último capítulo, custe o que custar.

Quanto a mim, “não vou me adaptar!”. Não mesmo!

El mundo de la moda es un poco la tiranía.

Gosto dos textos do nosso maior poeta Carlos Drumond.

De forma muito particular, gosto de “Eu, Etiqueta” onde ele faz referência às coisas que usamos que não contém nosso nome, não expressam nossos desejos, não dizem respeito ou fazem qualquer referência a quem sou, embora toda a mídia afirme o tempo inteiro que sim, que o que uso pontua caracteres sobre minha personalidade, meu jeito de ser e coisas assim.

Para nosso deleite, o texto de Drummond:

Eu, Etiqueta

Em minha calça está grudado um nome

que não é meu de batismo ou de cartório,

um nome… estranho.

Meu blusão traz lembrete de bebida

que jamais pus na boca, nesta vida.

Em minha camiseta, a marca de cigarro

que não fumo, até hoje não fumei.

Minhas meias falam de produto

que nunca experimentei

mas são comunicados a meus pés.

Meu tênis é proclama colorido

de alguma coisa não provada

por este provador de longa idade.

Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,

minha gravata e cinto e escova e pente,

meu copo, minha xícara,

minha toalha de banho e sabonete,

meu isso, meu aquilo,

desde a cabeça ao bico dos sapatos,

são mensagens,

letras falantes,

gritos visuais,

ordens de uso, abuso, reincidência,

costume, hábito, premência,

indisponibilidade,

e fazem de mim homem-anúncio intinerante,

escravo da matéria anunciada.

Estou, estou na moda.

É doce estar na moda, ainda que a moda

seja negar minha identidade,

trocá-la por mil, açambarcando

todas as marcas registradas,

todos os logotipos do mercado.

Com que inocência demito-me de ser

eu que antes era e nem sabia

tão diversos de outros, tão mim-mesmo,

ser pensante, sentinte e solitário.

Com outros seres diversos e conscientes

de sua humana, invencível condição.

Agora sou anúncio,

ora vulgar ora bizarro,

em língua nacional ou em qualquer língua

(qualquer, principalmente).

E nisto me comprazo, tiro glória

de minha anulação.

Não sou – vê lá – anúncio contratado.

Eu é que mimosamente pago

para anunciar, para vender

em bares festas praias pérgulas piscinas,

e bem à vista exibo esta etiqueta

global no corpo que desiste

de ser veste e sandália de uma essência

tão viva, independente,

que moda ou suborno algum a compromete.

Onde terei jogado fora meu gosto e capacidade de escolher,

minhas idiossincrasias tão pessoais,

tão minhas que no rosto se espelhavam,

e cada gesto, cada olhar,

cada vinco da roupa

resumia uma estética?

Hoje sou costurado, sou tecido,

sou gravado de forma universal,

saio da estamparia, não de casa,

da vitrine me tiram, recolocam,

objeto pulsante mas objeto

que se oferece como signo de outros

objetos estáticos, tarifados.

Por me ostentar assim, tão orgulhoso

de ser não eu, mas artigo industrial,

peço que meu nome retifiquem.

Já não me convém o título de homem,

meu nome novo é coisa.

Eu sou a coisa, coisamente.

…………………………………………..

Obrigada, Drummond, pela força!

Referência:

Carlos Drummond de Andrade, O Corpo. Eu, Etiqueta. Rio de Janeiro, Record, 1984, p. 85-87.
Arnaldo Antunes. Não vou me adaptar. Grupo Titãs.

Busca

Eu posso ser o que sou

Onde quer que esteja

Sem precisar de subterfúgios

Para me explicar

Imperfeita, inconclusa

Incompleta.

Consciente do que sou,

Tenho alguma certeza

Sobre para onde estou indo.

Embora saiba

Que além de minhas escolhas

Há coisas maiores que eu

Que definirão muito do que serei.

O que ninguém me pode roubar

É o que, na essência, sou.

O que, por escolha, vou sendo.

Todos os dias.

Eu me moldo

Me resolvo

Me envolvo

Me descarto

Me retrato

Me liberto

Me reciclo

Me aprisiono

Eu, dona de mim.

Quer chegar?

Entra, senta e toma um café!

Num lugar assim há de ter espaço

Para o não-eu.

Imagem – fonte

Dia do Técnico Industrial e do Técnico em Edificações

Tivemos o prazer de comemorar na Inspetoria do CREA – BA, em Jequié, o Dia do Técnico com chamadas em FM, faixa comemorativa, vídeo institucional e um coquetel especial com que prestigiamos todas os profissionais que compareceram naquele encontro regional no último dia 22 de setembro deste ano.

É necessário que todos os técnicos de nível médio se percebam como profissionais (daí a relevância da comemoração!).

A impressão que temos, através de contato com os mesmos, é que eles não possuem o necessário sentimento de pertencimento ao Sistema CONFEA-CREA. Como se fossem eternas mãos-de-obra baratas e não-especializadas e como se não elaborassem trabalhos técnicos de grande relevância para o desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida de nossa sociedade, contribuindo através da produção de conhecimento tecnológico, social e cultural em benefício da mesma.

Talvez o sentimento de menor importância por parte dos profissionais de nível técnico advenha do ranço de autoritarismo que ainda existe, refletida em afirmações do tipo: “é claro que o profissional de nível técnico não possui as atribuições de um profissional de nível superior!” quando deveríamos modificar o discurso afirmando que estes profissionais possuem, sim, uma habilitação específica e própria deles, que, inclusive dão aporte e subsídio aos profissionais de nível superior no desenvolvimento de suas atividades. Que gozam de atribuições profissionais concedidas por leis e resoluções do Sistema Confea-Crea, baseadas na formação acadêmica que adquiriram em suas respectivas escolas, garantindo, desta forma, a salvaguarda de seu mercado de trabalho.

Assim como um Arquiteto, não possui atribuição específica para assumir responsabilidade técnica pela execução de uma obra de saneamento, um Engenheiro de Pesca não pode elaborar um projeto estrutural de um edifício, o profissional de nível técnico possui suas atribuições limitadas ao conhecimento adquirido em sua formação escolar.

Mas eles são, sim, autores intelectuais de seus trabalhos; têm o direito de anotar seu Acervo Técnico através das Anotações de Responsabilidade Técnica (ART) dos serviços e obras realizados e, em conseqüência disso, obter junto ao CREA sua Certidão de Acervo Técnico (CAT).

Possuem também o direito de adquirirem aposentadoria especial pois, ao elaborarem suas Anotações de Responsabilidade Técnica, registram oficialmente os trabalhos realizados, naquele período, em atividades insalubres ou periculosas, definido através da própria ART.

Afirmamos, desta forma, que o Técnico também é um profissional, importante, respeitável e indispensável ao processo de construção de uma sociedade justa e democrática.

Reconhecendo isto, estamos contribuindo para desconstruir idéias autoritárias que insistem em menosprezar alguns em privilégio de outros.

É importante perceber a relevância social do trabalho dos profissionais ligados ao Sistema Confea-CREA para o desenvolvimento do País de forma sustentável e ecologicamente correta, já que setenta por cento do que se produz no Brasil passa necessariamente pelas mãos dos trabalhadores ligados à Engenharia, Arquitetura, Agronomia, Geologia, Geografia e Meteorologia e, dentre estes, pelos profissionais de nível médio que, a propósito, estão representados (como foi pontuado acima) pela maioria dos registros verificados nos seus respectivos Conselhos Regionais.

Portanto, parabéns, a todos os Técnicos, pelo seu dia!