A um velho amigo.


Adquiri recentemente um belo livro do famoso escrito russo Tólstoi. Pouca gente no Brasil sabe que além de um rico pensador ele também escreveu contos espirituais. Não que uma coisa anule a outra: um pensador pode ser um espiritual. É melhor que o seja!
Cinco contos em “Onde Está o Amor Deus Aí Está”. Um deles é intitulado: “De Quanta Terra Necessita um Homem?” É um texto não muito extenso, porém o leitor se cansa ao acompanhar um de seus personagens caminhando muito tempo e longa distância para conseguir a maior área de terra possível e esgota-se no percurso quando se esquece (parece se olvidar) da necessidade de água, comida, sapatos enquanto caminha rumo ao seu objetivo: ganhar o máximo possível de terra. Essa era a sua meta. Morre, então, castigado pelo sol, pela sede, fome e cansaço da longa jornada. Enfim, recebe sua porção: alguns palmos abaixo da terra.
Chico Buarque pontuaria: “É a parte que lhe coube naquele latifúndio.” Pobre homem!
Mas eu não quero falar nem de ganância nem de reforma agrária. Embora sejam temas que ocupem lugar importante em minhas reflexões pessoais.
Desejo falar de um espaço também complexo – talvez dos mais complicados! Amplo, profundo. Em que o homem deseja ardentemente penetrar. Lugar absolutamente rico que o impele a desbravar ou o cansa de vez: o coração feminino.
Penso que no abraço sincero o homem consiga chegar perto da alma da mulher. Mas essa não é uma tarefa simples!
Ele pode até penetrar seu corpo. É, todavia, possível, que o coração dela nunca tenha sido alcançado.
Shakespeare, em Homlet, sugere que “há mais mistérios entre o céu e a terra do que pensa a nossa vã filosofia.” Quero parafrasear o dramaturgo inglês em relação à alma feminina. Ali, há muitíssimos mistérios.
Se para o homem não é fácil ir nesse lugar, imagine quanta dificuldade teria para conquistá-lo, desbravá-lo, possuí-lo. Penso que isso faz o homem. Essencialmente ele busca. Procura. Interessa-se. Vai atras.
Flores, presentes, chocolates, poesias e músicas são usados na tentativa de alcançar este território sensível. Mesmo sendo deliciosos, não são plenamente eficazes. O coração de uma mulher é mais profundo. Vai além. Requer ainda mais trabalho. É mais fascinante. Exige conquistas mais complexas. Caminhos intermináveis. Como num grande labirinto!
Um homem pode ter mil mulheres. Certamente não terá tocado a alma de qualquer delas pois isso não é tarefa das mais simples.
Ele tenta. Parece desistir. Cansa no meio do caminho como o personagem de Tólstoi. Provavelmente por não ter compreendido ainda que terreno conquistado pode ser perdido caso não reconheça que era necessário constituir alguns vigilantes pela estrada.
A vigilância da presença qualitativa. Da palavra aprofundada. Dos mergulhos e tentativas de sondar seu próprio coração a fim de verificar se, de fato, ainda existe amor ou se o cansaço do caminho e o sol diários já não lhe esgotaram as forças de tentar chegar em casa.
Para a alma feminina isso é fundamental.

O nome dos homens e das mulheres.

Meu nome é Ieda.
Três vogais e uma consoante.
Podia ser Aidê, Leda ou qualquer outro.
Eu gosto porque é curto.
Embora digam que é nome de velha. (rs).
Em hebraico, significa “Favo de Mel”.
Aí eu me delicio! Ah… se todo mundo soubesse disso…
Ieda é um nome simples.
Mas é muito forte, resolvido, adulto.
Não se parece comigo.
Talvez eu seja assim, na essência.
Mas no coração mesmo… minha concepção pessoal é
A de quem possui uma fragilidade sem fim.
Contrasenso?
Nome forte.
Pessoa frágil.
E se juntasse isso tudo…
A gente seria um misto de frágil fortaleza.
(Como se é mesmo).
Nos tempos bíblicos os nomes identificavam a personalidade dos homens.
Davi significa predileto.
Sara, princesa.
Judite, louvada.
O nome da pessoa indica que ela é uma/um cidadã/ão. Detentora de direitos e deveres – numa explicação simplista. Um indivíduo.
O nome é uma espécie de marca que a identifica, que muitas vezes a diferencia de outras pessoas. (Nesse sentido também temos nossas digitais e íres – que nos identificam e singularizam ainda mais que nossos próprios nomes).
Os nomes das pessoas as identificam como gente. Como pessoa.
É o nome que prenuncia um sujeito ativo, dono de si, independente. Capaz de gerir sua própria vida e construir o futuro com dignidade e honradez. Parece que o nome clareia a existência das pessoas. De alguma forma lhe dá caráter. Desenha num primeiro momento sua existência.
Nesse mundo de pós-modernidade e inversão de valores é necessário que a essência do bem viver e da humanidade seja resgatada. Mesmo que em ninchos menores. Mesmo que lentamente. Que aparentemente sem forças para forçar mudanças que favoreçam e fortaleçam toda a criação.
Pagam-se alto preço para sustentarem frágeis impressões de respaldo social, de destaque, de status.
Se a gente quisesse – e a gente pode! – pagar alto preço para se humanizar ainda mais…
Quanto a gente seria mais gente…
Mais humano…
Quanto meu nome falaria por mim!

Todo Mundo é Pródigo.

O Gerson Borges, em seu CD A Volta do Filho Pródigo, é perfeito.
Emocionante!
Eu penso que especialmente na música Todo Mundo é Pródigo ele consegue dar pinceladas signficativas sobre nossa existência, nossa dor.
Fala do filho pródigo, do irmão mais velho e de nossa situação humana. De alguma forma estamos longe do Pai.
Impressionante quanto não percebemos isso.
Quem ouve esta música nunca mais consegue ser a mesma pessoa, nem consegue ter mais a mesma percepção de vida que tinha antes.
É, antes de tudo, para mim, um convite ao grande banquete.

Se não me falha a memória a letra é assim:

Todo mundo é pródigo
Não tem ninguém não
Que não pense em ir embora, um dia partir
Abraçar o mundo como fosse um balão leve
Mas a vida continua longe
Dura…
Seca…
Quem não é assim?

Feito o mais velho apegado ao seu chão
Que não foi embora (aparentemente)
Certo invejava o aventureiro irmão
Perto mas existência mentirosa
Longe…
Dura…
Seca…
Quem não é assim?

É. O coração engana.
Coração danado!
E não deveria enganar?
Fica a saudade do Édem
Da viração do dia
Quando era simples
Era fácil ter a boa companhia
De Deus pra conversar

Tem sempre alguém chegando
Sempre alguém partindo
Todo mundo é pródigo
Tem sempre alguém chorando
Sempre alguém seguindo

Todo mundo é pródigo.

Pródigo.