Terno de Reis – manifestação popular

Há coisas e pessoas que passam por nossas vidas forçando-nos ou conduzindo-nos a ver horizontes que jamais havíamos visto.

O curso de Pedagogia da UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia) foi, para mim, isso: um instrumento para me fazer abrir os olhos quanto à existência dos excluídos e para despertar, em mim, desejo de ir adiante, conhecê-los melhor, verificar muito além de seus limites, suas possibilidades e formas de expressão existencial.

Outro dia recebi a visita do Sr. Everaldo. O famoso Chiquim da Murinha. Flautista de Terno de Reis. E fiquei parada, no meu cantinho, ouvindo aquela figura de imensa riqueza popular com sua bicicleta, querendo resolver problemas ligados à sua comunidade num bairro periférico de Jequié – Ba.

Ou seja: ele está engajado! Socialmente ativo, apesar da idade, ele me convida com imensa alegria para assistir às próximas apresentações do seu grupo.

Foi o bastante para me fazer pesquisar, ler um pouco mais sobre aqueles misteriosos e belos sons que aparecem nas ruas desta cidade no fim do ano.

Eu não tinha muita clareza, mas agora entendo que Os Ternos de Reis são ligadas às comemorações natalinas. Manifestações populares que, usando o sagrado e o profano, festejam a vinda de Cristo.

Vejam só um pouco do que li e vi a respeito do assunto, em relação à letra e à música do Terno de Reis (Cortez):

“As estrofes de nossos ternos de Reis, são quadrinhas na maioria das vezes de feitura popular, heptasílabas que narram episódios referentes ao nascimento de Cristo. Podemos classificá-las como religiosas e profanas. As primeiras são aquelas que no seu conteúdo mantêm bem vivo o motivo cristão das comemorações da Bíblia. As profanas são as que fogem ao tema do ciclo natalino religioso. Mas antes desta narração encontram-se os versos de chegada ou de saudação, à porta da casa. Os versos compreendem vários ciclos: anterior ou véspera de 25, dia de Natal, de 25 à 1º do ano e de 1º de janeira ao dia de Reis. As estações são cantadas de acordo com o decorrer dos dias, e obedecem as seguintes principais frases: Chegada, Entrada, Louvação, Peditório, Agradecimento e Despedida.”

Disso, Cortez, eu não sabia! Obrigada pelas informações!

Há algum tempo eu e meus sobrinhos Camila, Netinho e Luan ficamos até muito tarde tentando saber de onde vinham os sons do Terno de Reis e não encontramos. Eles estavam por detrás de algum muro alto. Ou seja: as casas dessa cidade estão cada vez mais isoladas. Menos vizinhos, menos contato de povo com o povo. E, infelizmente, não encontramos o grupo. Um prejuízo para nós.

Este ano, não: já tenho o telefone do Sr. Chiquim e vou, sim, ver algumas das apresentações. Cultura popular é pouco do que nos resta. E sem essa de preconceito! Se eles não estão abertamente na mídia é por serem muito bons e comunicarem ao povo, ainda, coisas do povo. Muito bom. Muito bom!

E eu quero muito ir! Quero conhecer melhor isso tudo!

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Amizade x Cumplicidade x Amor.

Eu acredito em amizade entre sexos opostos.

Acredito também na importância de se construir relacionamentos onde a amizade e a sinceridade sejam notas dominantes, ao invés de sensualizar os relacionamentos – coisa tão comum nesses dias.

“Trocar figurinhas” sem confundir as coisas e perceber que podemos caminhar juntos obedecendo aos limites um do outro é, para mim, ponto fundamental para que sejam firmadas boas amizades, com sincero interesse de ajuda mútua.

Isso porque ser dono de seu próprio corpo é um direito inalienável já que ele é espaço do sagrado, verdadeiro templo da Eternidade.

Entretanto o cuidado com seu próprio corpo não deve se dar por simples medo de adoecer. Isso, este medo, em si, já é uma maneira de tornar-se doente.

Cuidar de si mesmo está relacionado a admitir que pessoas são pessoas. Para o bem das outras que, como afirmava Sócrates, o filósofo, voltará para mim mesma.

Como acontece com uma bolinha que você lança contra a parede: ela volta a você com a mesma intensidade com que a jogou.

Então acolher pessoas tem, aqui, um re-significação: abraçar sem aprisionar, como já dizia o dramaturgo inglês Shakespeare.

Por outro lado, também acredito que, com uma só pessoa eu deva compartilhar minha vida, minhas escolhas e ser cúmplice – um do outro.


Uma só pessoa, para mim, basta para exercer a difícil e misteriosa construção de uma profunda e substancial história a dois. Mais íntima. Segura. Feliz.

Experimentar o aconchego de um abraço depois de reparar as arestas é algo singularmente bom.

Estou disposta a isso.

E meus amigos serão sempre – e apenas – meus amigos.



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Lost

Neste fim de semana fomos ao cinema da casa de um tal chamado “Tostines” (que ainda não sabemos se é fresquinho porque vende mais ou se vende mais porque é fresquinho). Rs. Com o seu novo superpotente microondas fizemos pipocas de todas as cores, tipos e sabores.

Ou seja: cinema perfeito. Ainda por cima, contamos com a presença da própria Bú – personagem do filme Monstros S.A. Sem contar com a dona da casa: uma mulher de lindos cabelos longos e escuros.

O resultado foi um fim de semana do jeito que gosto: muito filme, amigos, pipoca, pizza, conforto e refrigerante.


Fechamos finalmente toda a segunda temporada de Lost, a famosa saga de pessoas que foram acidentadas pela queda de um avião numa ilha tropical do Pacífico e que conseguiram sobreviver (embora muitos tenham morrido no próprio acidente e têm morrido de várias formas durante cada episódio).


Começamos a assistir Lost numa praia maravilhosa daqui da Bahia. Nossa casa ficava à beira da praia e, no início, era como se nós também fôssemos parte daquele grupo de sobreviventes no meio do mato, numa ilha desconhecida.


Particularmente não me faz muito bem ver os episódios de Lost.


Confesso que durmo pensando em cada perigo vivido pelo grupo, suas dificuldades na busca de sobreviver e, muito especialmente, sua luta contra forças as quais eles mesmos não conhecem. Nem os expectadores conhecem. Ou seja: guerreiam contra o desconhecido.

Sempre que assisto algum episódio daquele fico sem sono.


Claro que sei que aquilo é apenas uma produção cinematográfica e que maquiagem, som, iluminação, estúdio, tudo é feito de um jeito que cative o público e o impressione devidamente.


O que me fez intrigada esta noite em que acordei às quatro da manhã sem sono foi ter detectado que há pelo menos dois pontos em comum entre todos os personagens da série:


1. Volta e meia eles se encontram nas retrospectivas que são mostradas sobre suas vida antes do acidente. No trânsito, no aeroporto, em alguma clínica de tratamento psiquiátrico. Eles estão sempre se entrelaçando. Se o contato não é diretamente, acaba sendo feito através dos pais, esposos e/ou outros.


2. Eles, definitivamente, não são pessoas com boa sorte. A maioria, antes mesmo do acidente, vivia mal. Ou fugindo, ou brigando com os pais, ou matando outras pessoas. Eles não eram felizes nem estão sendo felizes na ilha. Sem contar com o terror dos “Outros”.


Talvez por isso a produção esteja fazendo tanto sucesso: no fundo a gente parece que gosta de ver “sangue”.


De alguma forma produz nos expectadores a sensação de que sua vida está bem pois por piores que forem as dificuldades da vida real estão longe de chegarem à complexidade da saga. (Será?).

Ressalvadas as devidas proporções, estamos ou não vivendo dias de incompreensão, de extrema violência e de necessidade de desvendar os mistérios da vida?

Conclusão: todos estamos na mesma “ilha”.

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