Inteligência Emocional no Trabalho


“Segunda-feira é dia de branco! Ô diazinho difícil, gente!”; “Sempre tenho dor de cabeça nas segundas-feiras.” “Detesto o início da semana!” São frases que estão tão impregnadas no cotidiano da gente que chegam a ser engraçadas. Tem gente que fica de mal humor já no domingo à tarde pois sabe que no dia seguinte a rotina começa tudo de novo.

Mas o que há de especial na segunda-feira? Para a maioria das pessoas é o corte no descanso dominical e o retorno ao trabalho. Este Senhor que ao mesmo tempo cumpre duas funções: uma, a materialista, o da subsistência, onde a pessoa adquire seu ‘ganha-pão’ e garante sua existência do ponto de vista físico e biológico. Do outro lado, o trabalho é um fazer do ser humano. Assim, ele é dotado de vida. O trabalho é, para a maioria das pessoas, lugar de suas possibilidades, de sua realização. É onde o homem produz e se percebe útil, producente, importante. Onde ele pode exercer sua inteligência, sua criatividade, sua capacidade de pensar. Desenvolver sua identidade, relacionando-se com outras pessoas além dos componentes de sua família.

Este trabalhador é um ser de emoções. Então a gente começa a compreender o problema da segunda-feira. Sendo um ser emocional, o homem e a mulher levam consigo e, consequentemente, para o seu trabalho, alegrias, raivas, medos, amor, orgulho, divertimento, ciúme, aflição, vergonha, depressão e todos os sentimetos que são inerentes à raça humana.

O aparato psíquico do ser humano é constituído de Id, Ego e Superego, que são instâncias já muito conhecidas neste século. No Id, temos o espaço da inconsciência, do desejo. O Id não conhece limites e quer recompensas. O Superego é a instância do controle. Do cuidado, dos limites. E o Ego fica entre os dois, sofrendo suas forças, como se estivesse constantemente sendo pressionado. Os conflitos íntimos, existenciais, se iniciam dentro da própria pessoa humana. Como se estas instâncias estivessem em constante luta, fragilizando seu Eu, enfraquecendo seu poder de decisão, sua liberdade racional, sua realização como homem/mulher plenamente realizados e em conformidade e equilíbrio com o seu próprio ser.

Além dessa constituição interna onde a pessoa trava diaria e inconscientemete suas lutas mais íntimas, há o Outro. Este ser também dotado de suas próprias dificuldades e potencialidades, com quem nos relacionamos diariamente em nossos espaços laborais.

Ou seja: conflitos internos e externos exigem de nós um esforço ainda mais intenso a fim de que nossos espaços de criação sejam lugares de prazer e desenvolvimento pessoal, onde possa existir harmonia.

O que quero dizer com isso é que em todos os espaços ocupados pelas pessoas há lutas internas constantes e lutas externas. O desprazer da segunda-feira pode ser expresso em frases assim: “meu colega de trabalho é chato”; “meu chefe é exigente demais”; “meus afazeres são cansativos e eu não consigo produzir”. Começar todo esse desprazer requer de nós uma inteligência emocional bem elaborada ou fracasso no trabalho, na saúde, nos relacionamentos travados diariamente e até no convívio com a família pois não raro vê-se pessoas estressadas e cansadas ao chegarem em seus lares depois de um dia intenso de trabalho.

Para Domenico de Masi, 2000, “o trabalho perderá a brutalidade da fadiga física, será reduzido e acabará se confundindo com o lazer.” Este é um olhar teórico reconfortante. Cheio de esperança. De Masi está sinalizando que existe uma possibilidade de lidar com o trabalho de forma mais prazerosa, mais encantadora. Trabalho e Emoçoes não precisam ser duas forças antagônicas. Até porque não é possível separar uma da outra. Quando o homem chega no trabalho ele traz consigo toda a sua carga emocional, seja positiva ou negativa. De uma forma simples, a pessoa chega feliz ou infeliz no trabalho.

Usar as emoções de forma inteligente é possível. Em todos os setores da vida. Mas no trabalho é algo imperativo. Daniel Goleman, em seu livro Inteligência Emocional, afirma que com um alto QI você pode adquirir os melhores postos de trabalho mas é sua inteligência emocional que garantirá o sucesso e a sua realização pessoal e profissional. Além de garantir seu próprio trabalho. Hendie Weisinger, também vem confirmar essa afirmativa, a partir de sua vasta experiência em Inteligência Emocional aplicada ao Trabalho.

Conhecer-se e respeitar-se é um bom caminho para iniciar esse longo trajeto da realização pessoal e profissional para a Inteligênia Emocional. Sua relação consigo mesmo será menos conflituosa e mais agradável. Isso resultará também num convívio inteligente emocionalmente com os colegas, os chefes, superiores ou subalternos. Saber lidar com suas próprias emoções é um caminho que realmente valerá a pena. A vida cria um sentido diferente, o trabalho se torna uma extensão de casa, onde você tem, sim, vontade de viver.

Alegres, desejadas, divertidas, criativas, producentes. As segundas-feiras não serão mais as mesmas se, emocionalmente inteligentes, conseguirmos lidar com nossas questões existenciais e compreender o Outro, o não-eu, em suas potencialidades e limites.

Referências:

DE MASI, Domenico. Ócio Criativo. Editora Sextante. Rio de Janeiro, 2000.

GOLEMAN, D., A Inteligência Emocional. Lisboa: Editora Temas e Debates, Lda.

FREUD, S. 1973. Obras completas. Madrid, Editorial Biblioteca Nueva.

WESINGER, Hendrie. Inteligência emocional no trabalho. Trad. Eliana Sabino. Rio de Janeiro: Objetiva.

Dorme, dorme, Delecher…

Dorme, dorme, Delechér…

Já se observou que as músicas brasileiras para ninar bebês estão carregadas de conteúdos que estimulam a timidez, o medo, a insegurança.

Não à toa as pessoas tem insônia, dificuldade para dormir. Letras como: “dorme, neném, que a Cuca vai pegar” faz a criança pensar que se não dormir logo será ameaçada por aquele personagem horrível e amedrontador do Monteiro Lobato. Outra musiquinha também curiosa é: “boi, boi, boi, boi da cara preta, vem pegar fulano que tem medo de careta.” As melodias são realmente calmantes, belas, harmoniosas. Mas a mensagem da letra não é das melhoras se a gente quer que a criança dorma um sono tranquilo, sem pesadelos, sem medo.

Há crianças que dormem com os pais. Nada melhor para expressar amor dos pais, já que é a noite que eles estão descansados, na cama quentinha, desfrutando do amor, do abraço e do aconchego paterno. Certo? Não exatamente. Isso porque os pais acabam permitindo que os pequenos durmam no mesmo quarto deles toda a noite, incluindo a presença na hora do ‘namoro’. Os pais pensam: “mas nossos filhos estão dormindo, não vão ver o ato sexual!” Mais um engano. Os filhos ficam normalmente à espreita, fingindo dormirem. Em sua remota formação psíquica os pequenos entendem que os gemidos da mãe são de dor e que o pai está machucando a mãe. Sendo assim, a criança conclui: “vou ficar acordada para tentar impedir meu pai de machucar minha mãe.”

Esse momento define, dentre outros fatores, que aquela criança poderá ter insônia o resto da vida, sem saber o porquê. Vale relembrar que o inconsciente registra esses momentos para sempre e que a insônia voluntária pode resultar em involuntária. Ou seja: você até tenta dormir, mas não consegue.

Em outras palavras, nós geralmente criamos nossos filhos dando-lhes tudo de bom, todo nosso cuidado, nosso amor, aconchego. Isso, de modo geral, é um fato. Nos esforçamos para que nossa prole tenha estabilidade emocional, sucesso profissional e pessoal. Que tenha uma bonita história de vida. Quem não quer ver sua própria cria tendo êxito em todos os aspectos existenciais? O problema é que, desavisados, cometemos equívocos que comprometerão o futuro mentalmente saudável dos pequenos.

Dormir, para muitos, não é uma fácil tarefa. Por isso a industria farmacêutica tem crescido nos últimos tempos, nos entupindo de remédios, relaxantes, anti-depressivos. São os psicofármacos tão conhecidos por esse século que embora já consiga tirar fotografias de alta resolução em Marte, ainda não conseguiu reconciliar-se com seu próprio sono. Com o seu próprio eu. O sono artificial não se aproxima do sono natural, tanto quanto uma boa dentadura não se iguala aos nossos dentes próprios.

O sono está além do conceito de descanso ou de servir simplesmente para repor as energias gastas durante o dia. O sono vale para a preservação da saúde. É o momento da reorganização da mente. Isso porque um sono tranquilo, noturno e reparador fortalece as defesas do organismo que, além de outros benefícios, facilitará a aprendizagem e a criatividade. Costumo dizer que o sono é nosso espaço íntimo de encontro conosco mesmo. É o lugar onde nossas fantasias ocorrem, alimentando nossa capacidade de ter melhor qualidade de vida, de resolução dos nossos íntimos desejos, gerador de saúde mental. Isso equivale a dizer que dormir não é perda de tempo. Definitivamente, não.

E agora? O que faço para melhorar meu sono? O autor Weisinger, em seu livro Inteligência Emocional no Trabalho nos dá algumas dicas sobre diminuir o nível de excitação. E quanto mais excitado estiver seu corpo e sua mente, mais dificuldade você terá para dormir. Ele nos convida a evocar boas e prazerosas imagens; a condicionar-se a relaxar. Isso pode parecer difícil, mas é possível melhorar o nível de respiração, tentar relaxar o corpo. D. Branca, uma velha amiga nossa, diz sempre que problemas não se leva para a cama. Dizem os antigos que um velho e bom chazinho de camomila, de erva-cidreira, de capim santo, também resolvem. Vale a pena cuidar da higiene do sono, evitando atividades físicas duas horas antes de dormir, já diziam os Psiquiatras. O pensamento de que amanhã será outro e novo dia, cheio de novas expectativas e possibilidades também pode ajudar.

Dormir, para nossa saúde mental, deve ser tão importante e privilegiado por nós quanto o alimento diário, beber água, exercitar-se, ter pessoas que amamos por perto etc. Dormir precisa ser um ítem indispensável em nossa agenda. Inadiável. Para nosso próprio bem, para o bem daqueles que passam por nós. Isso sem falar na importância dos sonhos, dos quais falaremos em outra oportunidade.

Por outro lado, há pessoas que dormem demais. O sono patológico deverá ser investigado também por profissional competente. Dormir demais pode ser indício de depressão, de alguma irregularidade na saúde.

De qualquer forma, ainda reverbera em nossa mente infantil aquelas ameaças de que vamos ser devorados pela Cuca ou pelo boi-da-cara-preta. A noite, para muitos, ainda é sinônimo de tristeza, de angústia, de insegurança. Alguém poderia responder o porquê? Drummond vem a nosso socorro pontuado que “No meio do caminho tinha uma pedra.”

Vai ver que nas saudosas cantigas da roça estejam um importante princípio da sabedoria paterna: “Dorme! dorme! Delechér, dorme, dorme! Delechér não quer dormir? Dorme, dorme.” Simples assim: sem ameaças, sem afrontas, oferecendo à criança o maior conforto emocional, amparo do bom, seguro de inesquecível colinho de mãe ou de pai. Ou de quem de verdade ama.