O belo é efêmero

BÉSAME MUCHO (Luiz Miguel)

Bésame, bésame mucho / Como si fuera esta la noche la última vez

Bésame, bésame mucho / que tengo miedo a perderte / perderte después

Quiero tenerte muy cerca / mirarme en tus ojos /verte junto a mí / Piensa que tal vez mañana
yo ya estaré lejos / muy lejos de aquí.

Bésame, bésame mucho…”

Há um temor latente nesse texto.

Para mim, seu tema principal não é o Beijo.

Ela trata da efemeridade do belo. Da angústia de, com pouco tempo, não ter mais por perto aquela que lhe ama.

Perpassa pelo pensamento do poeta uma espécie de medo.

O temor de perder o objeto do que lhe produz vida.

Claro! Beijar é bom. É excitante.

Porém aqui o Luiz Miguel parece não tratar apenas do prazer, da descarga de endorfina que o beijo produz no corpo da gente.

Provavelmente ele deixe de lado o tema da felicidade preferindo falar da angústia da possibilidade de daqui a alguns instantes não mais contar com a presença do ser amado.

É como se ele quisesse afirmar que , de alguma forma, através daquele ritual, o beijo, ele mantivesse a proximidade. Assim, perpetuariam a ternura, a beleza e a alegria daquele momento passageiro.

Há algo de sagrado aqui.

Entendo que o que Évora pretende ao cantar Bésame Mucho, passa por essa temática.

Em Cantiga Triste, Sobre o Tempo e a EternaIdade, Rubem Alves também pontuou: “Você não entende porque a gente chora diante da beleza? A resposta é simples. Ao contemplar a beleza, a alma faz uma súplica de eternidade. Tudo o que a gente ama a gente deseja que permaneça para sempre.”

É como o poeta português Fernando Pessoa descreve numa carta de amor à Dona Ophélia Queiroz, sua namorada:

“Fiquei louco, fiquei tonto,
Meus beijos foram sem conto,
Apartei-a contra mim,
Enlacei-a nos meus braços,
Embriaguei-me de abraços,
Fiquei louco e foi assim.

Dá-me beijos, dá-me tantos
Que enleado em teus encantos,
Preso nos abraços teus,
Eu não sinta a própria alma, ave perdida
No azul-amor dos teus céus.”

Para os brasileirinhos de plantão, tive o cuidado de traduzir a canção:

Beija-me!

Beija-me, beija-me muito
Como se esta noite fosse
a última vez

Beija-me, beija-me muito
Que tenho medo de te perder
De te perder depois.

Quero te ter bem perto
Olhar-me em seus olhos
Te ver junto a mim
Pensa que talvez amanhã
Eu já estarei longe
Muito longe daqui.

Crise do cacau e consequências…



Hoje estive conversando com uma pessoa muito especial lá no trabalho.

Vou poupar-lhe o nome já que não tenho sua permissão para torná-lo público.

Ficamos quase uma hora conversando sobre a vida, sobre os sustos que ela nos dá. Sobre a efemeridade dos acontecimentos, da própria vida e das incertezas que a permeia.

Basta passar os olhos rapidamente à nossa volta para se encontrar pasmado com a rapidez das mudanças.

Citamos alguns amigos que até ontem eram muito ricos e gozavam de plena saúde e beleza e agora estão pobres, doentes e/ou feios.

O fato é que mesmo sabendo que tudo o que o homem planta ele colhe, há certa irregularidade no curso da existência que tanto fascina quanto assusta.

Falamos sobre a arrogância e o poderio dos coronéis, dos tão ricos produtores de cacau que, há vinte anos – somente vinte anos! – se viram empobrecer.

Meu amigo tocou no fato de não perceber qualquer reação positiva frente à esta tão grande por meio desses fazendeiros muito menos pela nova geração, seus filhos.

Embora a CEPLAC se esforce para providenciar clonar mudas de cacau ou usar outros tipos de técnicas para dar-lhes mais resistência à praga designada “vassoura de bruxa” e, assim, modificar a situação desfavorável àqueles produtores, não há muito perspectiva de melhora à curto prazo, já que há outros pontos de produção no mundo que superam extraordinariamente nossa produção que já foi a segunda maior do mundo.

Simplificando: os antigos fazendeiros hoje são pessoas comuns, como nós, pobres mortais.

Houve muito desmando na época áurea desse fruto.

Aqueles homens ricos e famosos por sua produção de cacau chegavam a vir à Jequié, que era e ainda é a maior cidade dessa microrregião, comprar pão. Claro que eles vinham esnobar, gastar dinheiro em farras, mulheres e bebidas, mas o argumento dado às suas respectivas famílias era algo que indicava: “posso”.

É, amigos… O mundo anda, a Terra gira e não podemos garantir nada para os próximos minutos.

Enquanto isso a única alternativa que nos resta é viver.

Mas importa ter muito respeito ao meio ambiente, às pessoas e essencialmente cumprir reverência à vida.