Recomeçar (réplica do querido Rogério Rodrigues)

Oi amiga,

Li e gostei muito do seu texto intitulado RECOMEÇAR. Lembrei de uma velha música de nossa época: Começar de Novo do Ivan Lins

Você disse que sofre com o fim dos relacionamentos dos seus amigos. Sofra, mais se lembre do que diz o velho mestre Rubem Alves…. Algumas quedas são para cima, isto é, às vezes é necessário desconstruir para construir sobre novas bases … em novos lugares … com novas pessoas…

Bom seria se pudéssemos recomeçar sempre, com a mesma pessoa com quem um dia juramos viver eternamente. Só que a vida não é um conto de fadas ou final de novela da globo…. A vida é dura… e às vezes o amor, que o poeta diz que é infinito enquanto dura, acaba.

Não acredito naqueles que para este raciocínio afirmam categoricamente que se acabou não era amor, mais simplesmente paixão. É uma resposta muito simplista para a complexidade dos relacionamentos entre homem e mulher.

Lembra de Heráclito quando ele diz, que ninguém toma banho duas vezes no mesmo lugar? Realmente as pessoas não nascem prontas. Isto vale como argumento tanto para andar mais uma milha, como para ter a coragem de romper “a acomodação nossa de cada dia” que nos faz ficarmos deitarmos em nossa zona de conforto e covardemente reclamarmos de não termos perspectiva na vida.

Sou por natureza pragmático… às vezes, isto parece até duro… mas creio que precisamos planejar, tanto o início como o fim de algo… inclusive de relacionamentos desgastados…. para que o luto possa ser vivido da melhor forma possível…

Há, chega… este e-mail era apenas para elogiar o seu texto e aqui estou eu escrevo uma tratado…

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Obs.: Faço questão de blogar o texto do Rogério, meu amigo de adolescência, por quem tenho muita admiração.

Exatamente por ele ter muito mais experiência que eu na área – apesar de discordar dele em alguns pontos, acredito que vale a pena registrar, aqui, sua resposta.

Recomeçar

Eu gosto da idéia do recomeço.

Sofro com meus amigos a desconstrução de seus relacionamentos.

Pessoas que ainda ontem afirmavam que não saberiam como poderiam sobreviver sem seus pares, hoje os abandonam sem muita cerimônia.

Particularmente sinto que isso seja bem o reflexo de nossos dias. Fomos engolfados por um sistema perverso que, em nome da globalização, da velocidade e do consumismo, não nos permite assumirmos o trabalho intenso do aparar as pontas, de conter a intolerância e tratar cada desencontro – tão presente nos relacionamentos – com ternura e compreensão. Acima de tudo, muito diálogo e respeito em relação às diferenças de cultura. Não se pode esquecer que um veio de uma determinada família de costumes que vão ser fatalmente diferentes da cultura da família do outro.

Nos acostumamos a comprar delícias prontas nos supermercados. Eu quero um biscoito crocante? Lá na prateleira tem. Quero uma roupa bonita? Na loja tem! Mas não tem pessoas prontas, almas gêmeas. Isso, não.

Voltando ao assunto, de qualquer forma, é muito complicado entender que a gente muda tanto.

Um dia você ama o namorado ou a namorada até à morte. Se for preciso morrer por ele ou ela, você morre.

No outro dia você já questiona a relação, os sentimentos e conclui que estava equivocado. Que aquele defeito antes tão pequeno e quase imperceptível se tornou um gigante e nós, pequenos Davizinhos, não temos forças para vencê-los.

Um dia eu perguntei a uma colega de universidade como ela se sentia depois de ter passado por sete casamentos antes dos quarenta anos de idade. No fundo eu queria tocar na ferida dela. Ainda não entendia que não se pode “apagar o pavio que fumega”.

Sua resposta foi para mim um tapa com luvas. Luvas delicadas que me forçaram a rever alguns conceitos e valores: “eu me sinto completa porque sei que posso re-co-me-çar!”.

Naquela noite a idéia do gato Fênix, que ressurge das cinzas, ficou incutida para sempre em minha memória.

Como é que pode?

Numa das ladeiras que dá acesso à Igreja Matriz aqui em Jequié, no fundo de um quintal aqui do centro, havia um pé de eucapto. Que negócio impressionante! Aquela árvore imensa devia provocar desprazeres para os donos da casa que aplicavam, uma vez por ano, algum produto para que aquela planta se secasse até morrer. E ela insistia em ficar ali: ereta, bela, forte. Quase eterna. Meses depois surgia num de seus galhos, de novo, folhas verdinhas verdinhas…

Viver é preciso ainda que tudo pareça estar dando errado.

Ainda que meus planos tenham sido aparentemente frustrados.

Essa insistência necessária tem que impulsionar as pessoas para frente e para cima, sempre.

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