Giulia e o aniversário de boneca.

Tia Nane – como toda tia maravilhosa – ficou o dia inteiro fazendo bolo de chocolate, brigadeiro, enchendo bolas de soprar… A idéia era fazer um aniversário de boneca. De uma das bonecas de Giulia. A filhinha de Joe Edman, meu namorado, que tem três anos de idade.
Tenho muito a falar de Giulia. Uma delícia de criança!
Eu gostaria de pontuar hoje uma questão.
Para comemorar eu teria escolhido a mais bonita boneca. Afinal, tiraríamos fotos daquele momento! Tudo ficaria registrado. Mas, não! Aquele ‘anjinho’ escolheu, dentre tantas outras bonecas que possui, uma bonequinha velha e sem braço para ser a aniversariante daquele dia. Eu não entendo.
Eu e Joe ficamos rindo. Além de tudo, a bonequinha não era de Giulia. Era minha boneca.
E vem outra questão: além de velha, sem braço e feia, nem era sua a aniversariante.
Como é que se dá, então, o pensamento de uma criança de três anos?
Em primeiro lugar, penso que passa por aquele coraçãozinho uma imensa beleza e despreendimento de si mesma. A idéia de propriedade está além de si.
O avesso do que nos faz mesquinhos e pequenos é o que faz crianças terem sinal de santidade.
Depois, a marca de simplicidade.
Qualquer outra pessoa escolheria a mais linda boneca de sua coleção. Daria um jeito de mostrar aos outros que é proprietária de algum poder. Uma boneca grande, cara e bonita representaria status, talvez. Em nossa sociedade se privilegia muito mais o ter em detrimento do que se é.
Outro ponto que gostaria de ressaltar é a independência de pensamento. É provável que algum adulto tenha sugerido (ou insistido) à Giulia a escolha por outra boneca. Ela preferiu a bonequinha velha sem braço.
Uma delícia aquela menina!
O aniversário foi um encanto. Inesquecível.
Fica a lição: eu quero ser independente. Quero ser simples. Quero ser bela.
Como Giulia.

Imunidade.

Quase não é possível, eu sei.
Mas gostaria de estar imune das desigualdades sociais que assolam o mundo e geram violência e dor.
Amaria ver meu mundo – toda a Terra mesmo! – livre de qualquer sistema opressor. De esquerda ou de direita.
Queria muito ver toda a natureza em harmonia consigo mesma e equilibrada com as invensões humanas. (Vem cá! Elas não vieram para isso?).
Gostaria muito de ver meu mundo menos consumista e, ao invés de objetos, homens e mulheres serem, de fato, cidadãos do mundo.
Queria estar Imune de coisas e pessoas que aprisionam a mente dos outros com imposição de culpas e medos.
Estar imune dos aparelhos ideológicos que nos impõem valores que, de tanto ouvir e ver, somos forçados a aceitá-los como premissas únicas e verdadeiras. Imune de igrejas, familias, da mídia, dos medos, das leis, das forças militares etc.. A Sociologia Crítica de Pedrinho Guareschi, sabe muito bem do que falo.
Sonho em ver as pessoas livres dos preconceitos que nos assolam e corroem nossa existência. E – pior! – destroem outros seres humanos. Preconceitos linguísticos, raciais, sexuais, religiosos e/ou de qualquer outro tipo.
Imune de falsidades. Inclusive daquelas que surgem de nossa própria casa.
Imune de estar imune. Porque viver é necessário e luta é sempre lugar de reflexão e crescimento.
Imune de mim. Para não ouvir de meu interior o que me impede de ser mais.
Imune!