Leinad, minha doce amiga!


Hoje é o aniversário de uma das minhas melhores amigas, Leinad – Daniel ao contrário. E vou confessar: fiz uma travessura terrível com ela. Eu e ela. Foi um ato engraçado, só pra fazer a verdade vir à tona… Tomara que dê certo.

De qualquer jeito nós nos divertimos e, logo cedinho, ela se contorceu de tanto sorrir no seu dia. Ou seja: começamos bem sua festa.

Tive que cantar para ela parte de uma musiquinha que foi muito cantata num dos episódios mais interessantes do Sítio do Pica-pau Amarelo, quando ainda éramos crianças, há algum (não muito) tempo atrás.

Eram duas meninas feias, magras e muito atentadas que provocavam as piores cenas com todas as personagens do Sítio e ainda se faziam de santas. Era engraçado pois ninguém as agüentava mais e elas afirmavam que eram lindas e bem comportadas, como eu e Leinad.

Minha música para Lew, minha doce amiga, hoje, então, foi:

“Nós somos duas meninas bonitas, meigas e finas
Amáveis, doces gracinhas
Nós somos duas meninas unidas, amigas, queridas
Eu sou educada dos pés á cabeça
Eu sou controlada da cabeça aos pés
Não sei o que é diabrura
O que é travessura?
Não sei o que é maldade
Não sei de sujeira!”

Eu amo tanto aquela menininha linda!!!!

Como vai o seu nariz?


De pinóquio, ou palhaço
Como vai o seu nariz?
Curioso, enxerido!
Todo assim é seu nariz.

Cheirador, descobridor
E também pesquisador
Fino, longo, achatado
Algo que o boi pisou.

Um nariz que chega adiante
Antes mesmo que você
Forma bem o seu rostinho
(Apertado é carinho)
Quão gostoso é respirar!

Se está congestionado
Vije! Atchim! Cuidado!
Vermelhinho já está.

Pode ser muito engraçado
Mas vai merecer cuidado
Pra voltar a se empinar.

E dar vida, alegria
Animar seu coração
Que já está se deliciando
Pelo fim dessa canção.

(Obs.: a imagem é do site www.clinicadaalegria.blogspot.com)

Para o alto e avante!


A gente tinha medo dos monstros do Robô Gigante. Até mesmo do próprio Robô Gigante a gente tinha medo. Ele e seus inimigos monstros eram grandes e feios. Especialmente feios.

Eu e marcos ficávamos durante o dia assistindo e pensando naquelas estórias daquele super-herói e íamos dormir com cruéis visões de luta e bichos feios na memória. Quando o último dos cinco filhos de nossos pais falava: “bênça, mainha; bênça, papai!” vinham aquelas imagens horripilantes em nossos pensamentos: os monstros viriam nos atacar… Ai que medo!

As luzes de nossa casa apagadas alimentavam ainda mais nossa criatividade. Marquinhos sempre teve a memória melhor que a minha e afirma até hoje que nem sempre fomos juntos pedir socorro na cama de nossos pais. Eu não acredito que eu ou ele tivéssemos coragem suficiente para atravessar toda a sala até a porta do quarto deles. E o medo deixaria? Eu não acredito! Certamente íamos lá juntos. Sempre juntos. Como fomos acender a luz do quarto juntos, há uns sete anos, quando já éramos adultos, com medo, depois que lhe confessei que eu tinha bruxismo. Mesmo já ‘grandinhos’, aos vinte e oito ou trinta anos de idade, ainda tínhamos (e temos) medo.

E nossa mãe dava sempre o ‘podem vir’, nos autorizando a entrar no quarto e dormir entre eles dois: papai e mainha. (Exceto se a porta do quarto estivesse trancada – aí não poderíamos bater ou sequer chamar!).

E eu passava a noite debaixo da barriga de papai… sem medo algum.

Obs.: “bênça, mainha; bênça, papai!” significam: “a bênção, mainha! A bênção, papai! Não podíamos dormir sem pedir-lhes a bênção.

Pensamento infantil

“E pode, Giu? O vilão está pedalando sua bicicleta nas águas do mar!” Foi a pergunta que fiz à Giulia, de cinco anos de idade.

Ao que ela responde: “Não. Não pode porque tem tubarão.”

E o tubarão, de fato, ficou circulando em torno do vilão do filme do Pica-pau até morder toda a bicicleta.

Desenho animado é tudo assim.

As coisas funcionam de um jeito infantil, interessante. Longe de nossa rigorosa lógica que indica que não se pode andar de bicicleta em águas…

Neles é comum aparecer um personagem cortando o outro pela metade e daqui a pouco já está recuperado.

As dores se mostram intensas e com freqüência alguém é transformado numa folhinha de papel. Amassado totalmente. Basta um sopro, um sacolejo e a personagem está novinha em folha. Literalmente em folha.

Há um pensamento além da realidade nos desenhos animados infantis.

E quão interessante é perceber que as crianças compreendem aquele universo com tanta simplicidade, liberdade e beleza.

Para a pequena Giulia não interessa se o mar oferece ou não atrito suficiente para mover os pneus da bicicleta do vilão.

Valem outras categorias.

As preocupações são outras.

As importâncias são outras.

O pensamento é desburocratizado.

É assim a imaginação infantil.

Saudade do que passou.


Confesso: sou saudosista.

Cada vez mais me compreendo assim e assumo essa marca de minha personalidade.

Tenho saudades de minha infância, adolescência.

Dos meus amigos. Dos primeiros amigos.

De Alda, filha de Mide, que brincava de Gata Pintada comigo e ríamos tanto porque, para mim, ela estava muito vermelha depois que eu lhe puxava muito as orelhas.

A música era mais ou menos assim:

“Gata pintada, quem te pintou?
Foi uma menina que por aqui passou
Tempo de areia
Levanta a poeira
Pega essa lagarta
E puxa as orelhas!”

Ela ficava vermelha de sorrir de mim que, segundo ela mesma, estava como um pimentão. Rs.

Ai, que saudade do pé de coco bem alto que tinha no fundo de nossa casa, Alda!

A gente ficava ouvindo o som do vento nas palhas do coqueiro. Ele ia uivando, como um lobo. Aquilo era amedrontador e maravilhoso ao mesmo tempo.

E quem não se lembra das vinhetas da Rádio Baiana de Jequié?

Hoje de manhã me peguei rindo de um texto que jamais me esqueci:

““Ô, moço! Me dê aí uma limonada!”
Pedindo dessa maneira você não comprará o remédio certo!
Quando for comprar diga assim: “Eu quero um vidro de Limonada Bezerra!”
É isso aí! Com a saúde não se brinca!”

Bons tempos aqueles.

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Nossa infância


Eu e Ivana nos sentamos à mesa (sempre à mesa) para prosear.

E o assunto havia sido sobre nossos brinquedinhos.

Já que papai não tinha dinheiro para nos comprar produtos industrializados e nunca tínhamos bonecas ou brinquedos, nós mesmos fazíamos nossas caixinhas, bonecas, carrinhos, mesinhas, cadeiras e outras coisas.

Isso tudo nos ajudou a entender que a vida é difícil e é com dificuldade e trabalho, além de muita criatividade, que atendemos às nossos necessidades.

Construir nossos próprios brinquedos era algo bom. Emocionante!

Ainda me lembro que ganhei de alguém uma lâmpada bem pequenina. Eu e Marquinhos adaptamos àquela pequena luz a uma pilha também pequena e conseguimos, assim, iluminar a casa da minha boneca.

Montei mesas com cadeiras. Sofás. Caminha. Tudo de material velho, caixas de fósforo e giz. Além de papel colorido.

Essa casinha era uma parte da estante. Quando fechava a porta, lá dentro ficava muito escuro e já que eu pensava que minha ‘filhinha’ teria, como eu tinha, medo de escuro, deixava sempre a luz acesa para iluminar aquele espaço.

Um dia briguei com Marcos. Não me lembro o porquê. Ele, com raiva, destruiu a casa de minha boneca e jogou todos os ‘móveis’ num terreno baldio que havia ao lado de nossa casa.

Junto da casa do Bicho Manjaléu.

(Poxa, Marquinhos! Até hoje eu não lhe perdoei por isso, viu?!)

Chorei muito nesse dia. Muito. Como é que alguém poderia ser assim? Sem coração? Uma pessoa terrível de cinco anos de idade, aproximadamente, que é capaz de destruir a mais linda casa de bonecas (e iluminada!) que existia! Será que ele não tinha coração?

E como é que eu ia enfrentar sozinha o Bicho Manjaléu para recolher todos os móveis e arrumar de novo a casa da boneca? Poxa! Quanto trabalho! Que medo!

Em pouco tempo aquela pessoa terrível e sem coração foi comigo, me protegendo do furioso imaginário Bicho e recolheu, numa caixa, tudo de volta.

E me ajudou a montar de novo a casa que, agora, ficou mais feliz e bonita.

Depois de ouvir toda essa história Sarinha comentou com seus brilhantes olhos verdes: “Puxa! Vocês faziam muita reciclagem quando eram crianças! Isso é maravilhoso!”

Eu e Ivana olhamos uma nos olhos da outra. Olhos arregalados. Que conclusão interessante de uma criança de seis anos…

O que Sarinha leu foi o contrário do que estávamos falando. Eu e Ivana falávamos de nossa pobreza e do quanto foi dura a nossa infância sem brinquedos.

Falar de reciclagem ou meio ambiente em nossa época, há mais ou menos vinte e cinco, trinta anos atrás era algo inusitado. Nem passavam em nossa mente infantil coisas desse tipo.

O mundo gira, as coisas mudam. O tempo passa.

Em nossa idade o que nos chamava a atenção era justamente nossa carência.

Para Sarinha o que importa é o meio ambiente. Provavelmente porque ela não entenda o que significa não ter. Ela tem tudo o que deseja… Suas demandas já são outras. Bem diferentes das nossas…

Penso que além disso prevalecem as diferenças culturais, as distâncias de gerações.

Há trinta anos não se falava com tanta naturalidade em meio ambiente ou reciclagem.

Nossas necessidades infantis eram outras. Nossos desejos, também.

Falar de lixo, material reciclado, meio ambiente, consumo e temas assim são sim, uma necessidade urgente. De todo o Cosmos.

Criança de hoje tem que falar dessas questões mesmo. Infelizmente.

Mas ainda temos crianças que, como nós em nossa infância, além de não terem visão ambiental, não possuírem bens e não puderem brincar, precisam trabalhar. Uma perversidade esse sistema capitalista!

E ainda se vê gente defendendo esse capitalismo desenfreado.

Que pena!

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Ainda na infância


Tenho pena de quem nunca teve um irmãozinho ou irmãzinha com quem tenha brigado muito, aos tapas mesmo, e depois de tudo, tenha feito as pazes sob a orientação da mamãe.

Tenho pena de quem sempre teve tudo nas mãos e ainda hoje pensa que a vida deve ser segundo a sua própria vontade.

Admiro quem não teve carrinhos ou bonecas e precisou, para brincar, construir seus próprios brinquedinhos com paus e latas usadas.

Para mim é fundamental que se tenha, na infância, brincado muito com os pés no chão, descalços, para aprender que aquilo dói, mas é delicioso.

Subir em árvores, também.

Ir para casa comer ovo frito quando na casa da vizinha se viu bolos e quitutes deliciosos. Substituir alimentos também faz parte da aprendizagem da vida. Especialmente quando não se tem dinheiro suficiente.

Perceber, ainda pequena, que não preciso ficar revoltada se minha priminha, que tinha um pai cacauicultor, tem dois sacos de balas cheinhos cheinhos enquanto eu ganhei apenas duas das balas. Entender a desigualdade social desde pequena, com olhares ainda infantis, era necessário.

Acima de tudo compreender que há graça na existência, ainda que tudo me vá mal.

Porque viver bem era e sempre foi preciso.

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