“Para todo tropeço, rios de misericórdia.”


Quando ninguém nos compreende Deus percebe nosso coração, nos vê e perdoa.
Além de nos amar incondicionalmente.
Ontem eu estava vindo de Salvador para Jequié com Joe e ouvi em seu i-pod uma música de Jorge Camargo que falava assim mais ou menos: ‘para todo tropeço, rios de misericórdias.’ Coisa linda, não é?
E eu fiquei me perguntando: como é que Deus nos acolhe e ama mesmo quando erramos?
Será que é porque cria nele um sentimento de proteção quando todo mundo nos aponta o dedo?
Eu tenho um sentimento de mãe imenso. Se algum amigo meu erra e todo mundo lhe julga mal, eu me ponho num lugar de amor e compreensão, tento acolhê-lo… Defendê-lo das pessoas. Isso é amor.
Mas no caso de Deus eu re-pensei melhor essa questão.
Ele não apenas nos ama: além do amor imenso, sua graça está sempre presente, incondicionalmente.
É difícil entender isso pois temos a idéia de correção, de retidão, de castigo… Talvez pelo ranço da ditadura, nos acostumamos a viver julgando as pessoas. É como se nossa mente fosse autoritária e autoritarismo (que é diferente de autoridade) fosse para nós algo altamente tolerável. Ou então isso de julgar os outros esteja no coração do homem. Intrínseco, carente de cura e revisão.
Deus, não. Ele não nos julga porque conhece o que vai em nosso coração quando vacilamos.
Ele mesmo foi quem nos fez.
Nos compreende.
Nos aceita como somos e crê que podemos nos humanizar cada dia mais.
Como diria Paulo Freire: ‘o homem possui vocação ontológica de ser mais.’ (Gosto tanto dessa frase!).
O criador sabe o que vai em nossa existência e o que nos move intimamente.
Então sou levada a dormir em paz, cheia de sua graça.
Se isso não for graça – perdão e acolhimento mesmo quando estou no fundo do poço – eu não entendo mais nada.

Sem lenço, sem documento…

A porta se fechou.

Quase poética esta afirmação.
Poesia lembra beleza, romanticidade.
Mas se um dia você se vê solto no mundo, sem ter pra onde ir, sem condições financeiras de objetivar propriamente seu novo espaço, sem ter direito onde comer… Sem seus livros, roupas, suas coisas… Sem endereço, sem seu lugar?
Isso acontece com pessoas que se separam, que rompem relações. O preço é alto.
Perdido no mundo. Como quem se afoga e não encontra chão para pisar. Agonia.
Tenho pena das pessoas que já viveram momentos assim. Amo três pessoas que já passaram por isso: meu irmão, minha mãe e um amigo que muito amo. Eu gostaria de fazer o tempo voltar para poder orar mais por eles. Cuidar melhor deles.
Pouca gente pode ajudar.
Essa sensação não é boa.
Um dia passa.

Limites e compatibilidades entre o ser e o ter.

Ontem eu estava num dos salões do centro daqui de minha cidade aguardando uma pessoa e presenciei uma cena interessante.

Chegou um rapaz muito bem arrumado, desses que a gente costuma chamar de ‘metrosexual’. Todo arrumadinho, cheio de etiquetas, alto, loiro e elegante. Uma figura bonita. Ele havia ido ali clarear ainda mais o cabelo. Talvez fazer as unhas…

O que me fez refletir é que além do maravilhoso e diferenciado atendimento que ele recebeu, ofereceram-lhe uma revista e, na tentativa de tratá-lo da melhor forma possível, a recepcionista lhe sugeriu uma revista para ler. Ao ser perguntado sobre qual revista prefereria, ele, orgulhosamente respondeu: “tal revista, de preferência.” E eu fiquei agoniada. Eu queria ter questionado a preferência política da revista escolhida e ter dito que eu teria vergonha de ler aquilo na vista das pessoas. Não! Não era uma revista pornográfica! Era uma dessas revistas semanais que dão a impressão (e só a impressão) de que está instruindo e passando informações. O problema está aí: mensagens tendenciosas, cheias de pouca ética e rara possibilidade de demonstrar claramente vários pontos de vista sem qualquer viés.

Outro dia, enviaram-me alguns exemplares e, ao final do envio, uma moça desta mesma revista ligou para meu telefone comercial para firmar com ela sua assinatura. Eu pedi que não mais me enviassem aquilo e fui veemente nesse sentido. Não quero perder meu tempo lendo o que não me interessa.

Está bem. Assumo! Estou sendo radical. Talvez fosse interessante, em estando num salão de beleza da vida, ler algo assim ao menos para ter o que falar contra… conhecer é interessante, mesmo que seja o que você não concorda. Só não tenho tido tempo para isso.

No segundo semestre do ano passado esta mesma revista entortou falas de vários intelectuais brasileiros que são (como quase todo intelectual de bom senso) contra o neoliberalismo e pôs em xeque o pensamento dessas pessoas que tanto contribuem para o pensamento desta nação. Enviesou reflexões, distorceu idéias e tentou fazer-nos entender que no Brasil não se pode pensar. Bem a gosto da clara intenção dos países ricos: temos que ser mão de obra barata e não especializada: que eles produzam conhecimento e nós apenas o consumamos. É lastimável… Assim, o nosso ensino superior não passa de reprodutor de conhecimento (sem considerar outros níveis de educação), temos nossos pontos de vista pautados a partir da mídia e dizemos orgulhosos que estamos em desenvolvimento (?). Pedro Demo afirma que enquanto o primeiro mundo pesquisa os outros dão aulas. Rs.

Há uma diferença entre inteligência, informação, conhecimento e sabedoria.

Nada contra ser bonito e se cuidar. Só fica a contradição: ser e ter se confundem facilmente. Para nosso prejuízo.

Escolhi uma revista sobre maquiagem. Aprendi a usar melhor meu baton.