Decifra-me ou te devoro.

 

 

 

 

ingres-edipo.esfinge

 

O desafio da esfinge, no Mito grego, muito tem a ver com nossas relações pessoais.

A esfinge fazia uma pergunta, um questionamento. Se você conseguisse responder, joia. Sairia ileso. Sucesso total.

Caso não conseguisse responder corretamente à pergunta, seria morto, devorado, castigado. Sim. E daí? O que isso tem a ver comigo?

Se você tem um amigo que, do nada, fecha a cara para você, fica mal, não fala mais com você e você não tem sequer noção do que ocorreu para que ele ficasse tão mal assim, você está lidando com essa questão.

Se você tem uma namorada que, do nada, se zanga e você não consegue entender o motivo do mal-estar; se sua mulher está muito chateada com algo que você tenha feito e que você não tem noção do que é, é isso! Você está vivenciando essa dificuldade.

No fundo, parece uma incapacidade de verbalizar o que se sente.

Estou muito zangada! Espero de você outro comportamento ou uma fala especial”, mas não lhe dou a chance de saber, sequer, o que espero exatamente de você e/ou o que desejo ouvir.

Para quem está do lado de cá, essa situação é difícil, complicada e até constrangedora. A pergunta é: como vou satisfazer o desejo do outro ou tentar aplacar a dor do outro se sequer tenho noção de qual seria essa dor? Como uma pessoa poderia tentar satisfazer outra que não consegue expressar claramente o que quer e que não deixa claro o motivo de sua frustração em relação ao outro?

E o relacionamento dos dois (marido-mulher, filho-mãe, patrão-empregado, etc) vai ficando fragilizado, empobrecido, pois não se sabe, ao certo, para onde se deve seguir, pois as prerrogativas não ficaram antecipadamente claras.

Por isso que vale a pena falar. Falar e ser ouvido. Conversar sobre os pontos tensos, sobre as insatisfações.

Conheço uma mulher que fala: “se a pessoa não conseguiu ler minha vontade nas entrelinhas, no olhar, ela não vai conseguir entender nunca”.

E eu fico morrendo de pena dos dois: de quem acha que tem o direito de ser compreendido e de quem fica sendo julgado por não ter a capacidade mágica da adivinhação. Uma relação assim estará fadada ao insucesso. Infelizmente.

Tratar cada nó, cada mal entendido com diálogo, com uma conversa franca e clara, onde as pessoas envolvidas ficassem a par do que se quer.

A partir daí, os desejos estarão claros e as relações fluirão com maior leveza.

Se eu lhe falo o que quero, você vai entender o que desejo. Para me atender ou não. Mas saberá exatamente o que me angustia na nossa relação.

Se for assim, se os pontos estiverem postos e os pontinhos nos ‘is’, não haverá necessidade de se viver brigando ou de se desenvolver frustrações em relação ao outro.

Na relação, as pessoas não estão obrigadas a satisfazerem um ao outro em tudo. Mas elas terão o direito de acertar ou errar. Sem o risco de serem devoradas.