20.07.2007


Hoje é o dia do aniversário do Senador Pinheiro Machado (conhecido como “o chefe’), um dos políticos mais atuantes da República Velha, um dos maiores rivais do escritor baiano e também Senador Rui Barbosa. Este, progressista.

Aquele Senador, de estilo conservador, foi acusado de manter irregularidades nas votações do Brasil na época.

Considere-se que o que prevalecia naquela altura da história brasileira eram os poderes políticos e não o pós-moderno voto eletrônico. Assim as “falhas” nos resultados das eleições eram constantes. Além disso, vale ressaltar, lá não existiam painéis eletrônicos.

Pois o tal macho opôs-se à hegemonia paulista e à aliança entre São Paulo e minas Gerais (conhecida política do Café com Leite) e conseguiu promover a ascensão da nova oligarquia, agora a gaúcha, no País.

Suas últimas palavras por escrito são:

Neste momento em que a Capital da República está profundamente agitada por elementos subversivos, que evidentemente procuram atentar contra a ordem, as autoridades legais, quiçá contra as próprias instituições…

Resta verificar quem eram esses “baderneiros” e quais os seus anseios como cidadãos.

Qualquer semelhança entre as épocas, datas ou pessoas conhecidas pode ser mera coincidência.

Dar a própria vida.

Sei que é preciso amar a todas as pessoas.

Sei.

Só há algumas pessoas, além das outras pessoas, por quem eu teria coragem de dar a vida.

Quem me conhece sabe disso.

Dedico, então, esse vídeo a Ivana e a Ione.

Meu Pé de Laranja Lima

Tive acesso ao livro Meu Pé de Laranja Lima, escrito por José Mauro de Vasconcellos e publicado 1968, quando ainda era criança.

Ao concluir sua leitura eu saí do quarto completamente desgarrada, numa tristeza profunda e com o rosto inchado de chorar. Minha mãe, ali, me proibiu de ler qualquer outro livro (risos) pois pensou que aquilo poderia me fazer muito mal.

É encantador o vínculo de amizade que o pequeno Zezé estabelece com a árvore. Um garoto de apenas 5 anos de idade e com uma sensibilidade e esperteza admiráveis.

Carente, tanto financeiramente quanto da presença dos pais (pois tinham que trabalhar para sustentar toda a família), Zezé foi uma criança fascinante, criativa, traquina. Aos olhos dos adultos e de seus irmãos foi até considerado uma criança má.

O bom leitor logo percebe que ele é uma doçura de pessoa. Tanto que o Sr. Portuga acaba por ser um de seus melhores amigos. O outro, claro, era o Pé de Laranja Lima.

O livro é engraçado, comovente e triste.

A cena do You Tube vale para dar água na boca de quem não gosta muito de ler ou para quem já leu o livro e quer matar a saudade.

Como em todos os outros casos e sem querer ser radical, ler o livro é muito mais emocionante do que ver a versão em filmes ou novelas.

O belo é efêmero

BÉSAME MUCHO (Luiz Miguel)

Bésame, bésame mucho / Como si fuera esta la noche la última vez

Bésame, bésame mucho / que tengo miedo a perderte / perderte después

Quiero tenerte muy cerca / mirarme en tus ojos /verte junto a mí / Piensa que tal vez mañana
yo ya estaré lejos / muy lejos de aquí.

Bésame, bésame mucho…”

Há um temor latente nesse texto.

Para mim, seu tema principal não é o Beijo.

Ela trata da efemeridade do belo. Da angústia de, com pouco tempo, não ter mais por perto aquela que lhe ama.

Perpassa pelo pensamento do poeta uma espécie de medo.

O temor de perder o objeto do que lhe produz vida.

Claro! Beijar é bom. É excitante.

Porém aqui o Luiz Miguel parece não tratar apenas do prazer, da descarga de endorfina que o beijo produz no corpo da gente.

Provavelmente ele deixe de lado o tema da felicidade preferindo falar da angústia da possibilidade de daqui a alguns instantes não mais contar com a presença do ser amado.

É como se ele quisesse afirmar que , de alguma forma, através daquele ritual, o beijo, ele mantivesse a proximidade. Assim, perpetuariam a ternura, a beleza e a alegria daquele momento passageiro.

Há algo de sagrado aqui.

Entendo que o que Évora pretende ao cantar Bésame Mucho, passa por essa temática.

Em Cantiga Triste, Sobre o Tempo e a EternaIdade, Rubem Alves também pontuou: “Você não entende porque a gente chora diante da beleza? A resposta é simples. Ao contemplar a beleza, a alma faz uma súplica de eternidade. Tudo o que a gente ama a gente deseja que permaneça para sempre.”

É como o poeta português Fernando Pessoa descreve numa carta de amor à Dona Ophélia Queiroz, sua namorada:

“Fiquei louco, fiquei tonto,
Meus beijos foram sem conto,
Apartei-a contra mim,
Enlacei-a nos meus braços,
Embriaguei-me de abraços,
Fiquei louco e foi assim.

Dá-me beijos, dá-me tantos
Que enleado em teus encantos,
Preso nos abraços teus,
Eu não sinta a própria alma, ave perdida
No azul-amor dos teus céus.”

Para os brasileirinhos de plantão, tive o cuidado de traduzir a canção:

Beija-me!

Beija-me, beija-me muito
Como se esta noite fosse
a última vez

Beija-me, beija-me muito
Que tenho medo de te perder
De te perder depois.

Quero te ter bem perto
Olhar-me em seus olhos
Te ver junto a mim
Pensa que talvez amanhã
Eu já estarei longe
Muito longe daqui.

Alma perfumada


Gostaria de compartilhar com você hoje um texto de Ana Cláudia Saldanha Jácomo, Almas Perfumadas.
Eu tenho o privilégio de, dentro de casa e fora dela, contar com gente que tem “alma perfumada”.

Que bom!

Almas Perfumadas
(Ana Cláudia Saldanha Jácomo
Para minha avó Edith.

Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda.
De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça.
Lambuzando o queixo de sorvete.
Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher.
O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.
Tem gente que tem cheiro de colo de Deus.
De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul.
Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis.
Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo.
Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso.
Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.
Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra.
Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza.
Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria.
Recebendo um buquê de carinhos.
Abraçando um filhote de urso panda.
Tocando com os olhos os olhos da paz.
Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.
Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa.
Do brinquedo que a gente não largava.
Do acalanto que o silêncio canta.
De passeio no jardim.
Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume
que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo.
Corre em outras veias.
Pulsa em outro lugar.
Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está conosco, juntinho ao nosso lado.
E a gente ri grande que nem menino arteiro.
Tem gente como você que nem percebe como tem a alma Perfumada!
E que esse perfume é dom de Deus.

Independência da Bahia


Como ontem foi o dia da Independência da Bahia, nada mais justo do que anotar aqui a letra do nosso Hino. Ela foi composta por Ladislau dos Santos Titara. A música é de José dos Santos Barreto.

Uma pena não podê-la ouvir por aqui.

Embora o desejo da verdadeira liberdade ainda seja uma dominante em nossas necessidades cidadãs baianas, fica a utopia, o vislumbre, o romantismo do desejo.

“Dois de Julho”

(Hino da Bahia)

Nasce o sol a 2 de julho

Brilha mais que no primeiro

É sinal que neste dia

Até o sol é brasileiro

Nunca mais o despotismo

Referá nossas ações

Com tiranos não combinam

Brasileiros corações

Salve, oh! Rei das Campinas

De Cabrito e Pirajá

Nossa pátria hoje livre

Dos tiranos não será

Cresce, oh! Filho de minha alma

Para a pátria defender,

O Brasil já tem jurado

Independência ou morrer.