Sucateamento das Universidades no Brasil

Fui, num desses sábados, numa formatura do curso de Bacharelado em Química aqui na UESB – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.

É sempre bom voltarmos à nossa casa. Ali, fiz dois bons cursos e fico emocionada quando passo por lá e revejo bons amigos, professores, Sr. Nelson (nosso pipoqueiro da portaria) dentre outras pessoas também muito queridas.

Aquela casa fez parte de um bom tempo de minha vida!

Eu e minha irmã fomos ao sanitário daquela instituição de ensino. E minha irmã ficou comentando: você viu que coisa feia? O sanitário está sujo, não tem papel…

E eu fiquei pensando: embora a construção daquele setor, que fica entre a biblioteca e o auditório principal, seja relativamente nova, há um contraste entre a beleza da edificação e a sujeira de algumas salas do seu interior. E fiquei ali tentando explicar à minha irmã que a universidade pública merece muito respeito e tem um lugar importante na sociedade. Importantíssimo!

Vejamos:

Na última Lei de Diretrizes e Bases da Educação do Brasil ficou definido que a organização acadêmica das Instituições de Ensino Superior passariam a ser classificadas em:

a) universidades

b) centros universitários;

c) faculdades integradas;

d) faculdades;

e) institutos superiores ou escolas superiores.

Destas cinco modalidades, apenas as universidades teriam legalmente a obrigação de trabalharem o tripé Ensino, Pesquisa e Extensão. Isso significa que a Universidade – e somente ela – teria o fim de produzir conhecimento.

As outras modalidades podem se limitar ao Ensino. Ou seja: reproduzimos conhecimento como ‘papagaios’.

Tal e qual está nos livros. Da maneira que está nos teóricos legitimados pelo espaço acadêmico. Nossos pensadores próprios quase não teriam voz nem vez. Como é mesmo hoje em dia.

Por exemplo, Paulo Freire foi um de nossos maiores intelectuais e pouca gente no Brasil o conhece. É uma pena.

Excetuando-se os Centros Universitários que legalmente estão ligados ao ensino em excelência, as outras três modalidades, tão presentes em nossas esquinas hoje em dia, apenas ensinam. E impõem aos alunos medo, provas pesadas para que eles pensem que ali o ensino é bom. O senso comum trata deste jeito essa questão: muitos foram reprovados; então o professor “puxa” mesmo.

Com algumas respeitáveis exceções, a qualidade do ensino é questionável. Não há produção de conhecimento. Há pouca pesquisa. Há uma verdadeira indústria de diplomas em nosso Brasil, pondo no mercado de trabalho profissionais de qualidade teórica e prática duvidosas.

Simplificando: se os poderes multilaterais desejam que todos os países não desenvolvidos continuem sendo mão de obra barata e não especializada, a universidade no Brasil constitui um alto risco intelectual.

Os produtores de conhecimento estariam em vários espaços, formando opiniões e conscientizando a população sobre a falta de conhecimento que temos de nossa Constituição Federal, por exemplo.

Ou estariam falando abertamente sobre quem financia os nossos jornais e sobre quem realmente manda neste País, quem ideologicamente orienta nosso pensamento (se é que pensamos por nós mesmos).

Além disso, nossos intelectuais poderiam produzir um tão importante e grande conhecimento (e também disseminar este pensamento por todo o País conduzindo novos pensadores e criadores) que seríamos concorrentes em condição de igualdade em relação aos países de primeiro mundo – as grandes potências.

O raciocínio é simples. Diria simplista até. Porém clareia um pouco a questão do sucateamento das nossas universidades públicas que sobrevivem ainda assim com professores de altíssimo nível acadêmico.

Minha irmã não pôde falar mais nada contra a universidade pública depois de meus quarenta minutos de discurso. Rs.

Eu não posso deixar a imagem de minha casa deturpada por ninguém.

Concorrentes entre (contra) si

Parece-me que está tão intrinsecamente decidida essa questão de competitividade e a compreensão de que o outro é meu inimigo e concorrente que tenho vivenciado sempre coisas dignas de nota, ao meu ver.

Uma delas é minha antiga colega de natação. Eu tinha meus vinte e poucos anos e ela já era uma respeitável senhora. Em todas as atividades, em todos os exercícios comandados pelo nosso professor, aquela senhora de cabelos embranquecidos partia adiante, como se estivéssemos em verdadeiras olimpíadas. Eu ficava rindo dela quando a mesma se gabava verbalmente de ter passado à minha frente.

Ora! Eu estava apenas realizando uma atividade física prazerosa! Não estava competindo com ninguém.

Outro dia, no transito, um também respeitável Senhor com aparência sexagenária me deu uma cortada e brincou de “pega” comigo. Detalhe: eu não estava inscrita na brincadeira e quase participamos de um sério acidente, envolvendo mais outros dois carros. Metros além ele parou o carro, tranqüilamente o estacionou na porta de sua casa e ficou na porta, rindo.

Eu não queria brincar daquilo. Muito menos perceber claramente que nossa vã filosofia nos permite pensar que a vida é uma grande competição e todos concorrem entre (e contra!) si.

Sem contar os chefes que confundem liderança com autoritarismo. Chefia, com superioridade. Serviço, com servidão. Injustiça, com desordem. Desses, não falarei.

A grande guerra da humanidade é por PODER. Foucault está certo.

Bebidas Gaseificadas e fermentadas…

Eu não vou comentar sobre o mal que as bebidas gaseificadas e fermentadas (principalmente as pretinhas – de quem não devemos mencionar o nome) nos fazem.

Nem gosto de pensar que uma coisa tão saborosa possa desentupir pias, limpar tanque de gasolina ou coisas assim: Joe me mataria se eu “blogasse” contra a “bebida dos deuses”, sua necessidade diária. Rs.

Outro dia recebi, lá no trabalho, a visita de um empresário que industrializa a saudosa Tubaína.

Você se lembra disso? Hum… Que delícia!

Bebíamos Tubaína quando nossos pais não tinham dinheiro (e agora têm?) para comprarem as outras bebidas dominicais.

Tubaína era a bebida das festinhas, das comemorações. Dos encontros familiares quando não podíamos comprar outras marcas.

O empresário me convidou a pensar que só se vende Tubaína hoje em dia nos barzinhos periféricos da cidade e que ninguém a solicita porque isso apontaria pouco status social. Ou seja: seria uma “humilhação”. Até mesmo as outras bebidas alternativas – além das que aparecem na grande mídia – são rejeitadas pela maioria das pessoas.

Babau do Pandeiro, em sua música “Cassaco Com A Coca-Cola No Saco” , prenuncia, num modo particularmente cearense, como bom nordestino que é, esse fato: beber o líquido famoso promove nas pessoas um certo ar de ascensão social, uma falsa sensação de poder.

Veja a letra:

“Vocês tão vendo aquele Cassaco com a Coca-Cola no Saco?
Ele em pé parecido um macaco
Eu quero tomar muita Coca-Cola nesse carnaval
E Vou dançar dentro do municipal.”

E fiquei refletindo sobre isso o resto do dia.

Imagine!

Adultos não conseguem resistir às imposições da grande mídia. Considerem crianças e adolescentes… Quanta força e maturidade teriam de possuir para afirmarem suas preferências pessoais, se elas não estiverem de acordo com a força dominante!

Ouvi o manifesto da imprensa outro dia num dos nossos horários nobres onde eles (profissionais da informação) cobravam dos poderes públicos maiores e mais eficazes ações contra a violência. Gosto da leitura feita pelo Observatório da Imprensa sobre o assunto.

Eu penso que se a televisão cumprisse sua obrigação de educar para o bem e pela não-violência, as coisas, em nosso País, estariam andando por outro caminho.

Em Entre a Ciência e a Sapiência o professor Rubem Alves pontua isso quando encaminha cartas ao dono da maior emissora de TV do País e, infelizmente, nunca contou com uma resposta nem por escrito, muito menos por ações do mesmo.

Nossa economia, nossa educação, nosso povo vive mal. Eu ainda compreendo que poderíamos fazer algo para mudar este estado de coisas com pequenas ações de conscientização e atuações genuinamente populares a fim de assumirmos nossa própria identidade, conquistarmos um espaço melhor de qualidade de vida, longe do apelo consumista que tanto nos assola.

Eu quero provar de novo a Tubaína! E não quero ter de me envergonhar por isso.

Projetos Sociais – Catadores e Lavadeiras.

Há um ano e meio estive envolvida voluntariamente num projeto de uma ONG – Organização Não Governamental – PANGEA. Com apoio da Prefeitura Municipal de Jequié, do Governo Federal e da Petrobrás, trabalhamos com a capacitação de catadores de material reciclável.

A turma do Pangea – uma administradora de cooperativas, uma assistente social e um psicólogo social – trabalhou desde o início cadastrando nomes dos catadores desta cidade. Tiveram um enorme trabalho de integrá-los aos programas sociais, inclusive para providenciar documentos como registro de nascimento e carteira de identidade que a maioria não possuía.

O objetivo maior era unificar as duas cooperativas que existiam aqui. Essas organizações eram enfraquecidas por estarem desunidas e, além disso, sofriam a ação dos famosos “atravessadores”, que compravam de suas mãos todo o material reciclável recolhido por um precinho muito menor do que o valor que as indústrias costumam oferecer.

Uma das grandes batalhas foi capacitar os catadores a gerirem seu próprio negócio e organizarem sua própria cooperativa que, fortalecida pela união das duas cooperativas anteriores e pela força do trabalho conjunto, além do apoio das entidades acima mencionadas, iriam adiante com a autonomia necessária para serem mais tarde uma empresa respeitável no seu campo de atuação.

Eu entrei nesta fase de capacitação e foi um trabalho sobremaneira importante para minha vida acadêmica e para ampliar minha visão acerca da educação popular.

Eu tenho muito para falar sobre este trabalho com os catadores, mas deixarei para outro momento.

Hoje eu ganhei o dia!

Ane – minha colega-amiga – como sempre, Ane! Falou um pouco no msg comigo e convidou-me a participar, lá em Ipiaú – Ba, num projeto de resgate de identidades com as lavadeiras de roupa do Rio das Contas.

Foi rápido o nosso contato, mas ela me falou algo sobre resgate das cantigas das lavadeiras naquela região, identidade, lugar e não-lugar. Gosto muito das questões de gênero. Mas não contava em poder trabalhar com tanta coisa boa ao mesmo tempo: mulheres, música genuinamente popular, educação, projeto social… Resgate de identidade! Hum… Que delícia!

Quer saber? Imediatamente eu disse: sim!

Quero muito poder trabalhar com aquelas mulheres e já comecei a estudar.

La traducción: Mi nombre: mi identidad, mi historia.

Atendendo a pedidos, estou traduzindo o texto: Mi nombre: mi identidad, mi historia.

Meu Nome: minha identidade, minha história

Estou certa de que meu nome
Desenha outros nomes
Que estão ao meu redor.

O nome de meu pai
Conta-me uma história
Própria de sua família – que é também a minha família.

O de minha mãe
Fala de vidas
Que foram, algum dia
De alguma maneira
Importantes para o que sou agora
Também para o que vou ser.

Se meu nome é dito em algum encontro
Sei que estão falando de algo
Muito maior que eu.

Estão falando de raízes.
De árvores enraizadas
Há muito tempo.

Estão falando de mim.
De minha vida
De minha história.

Isso quer dizer:
Minha identidade.

Há algo em meu nome de que não gosto
Mas não posso esquecê-lo
Pois é tudo o que tenho.

Pertencimento.

Assisti neste último domingo ao filme “Diários de Motocicleta” que aborda a vida de Che Guevara enquanto percorria quase toda a América do Sul junto com seu amigo. Os dois numa motocicleta apelidada de “a poderosa” embora estivesse, desde o início da viagem, em precário estado de conservação.

É coisa da alma jovem o desafio de conhecer, a aventura da vida. Comum. Entretanto, no caso dois, penso que a aventura foi extremamente exagerada. Embora necessária e produtiva.

Enquanto percorriam os belos lugares daquela região, foram percebendo que havia pessoas – e muitas eram elas – que sofriam as injustiças sociais de seu tempo.

Essa impressão foi tão forte para os aventureiros viajantes que modificou o jeito de pensar e agir daqueles que haviam saído da Argentina e influenciou toda uma geração a ponto de ficarem plantadas sementes importantes de profundidade epistemológica acerca da nossa velha América.

Confesso que eu e Joe fomos levados a assistir ao filme acima mencionado devido à música “Al Otro Lado del Río” – de Jorge Drexler, que ganhou neste ano o Oscar de melhor canção. Uma delícia. Pensamos inicialmente que íamos ver as lutas e estratégias utilizadas pelo Che à busca da libertação da América do Sul, mas vimos apenas o início de sua trajetória e a nascente de suas percepções sobre as injustiças existentes naquele período. Valeu a pena ver o filme e voltar a ouvir a música – meu presente do dia dos namorados (obrigada, Joe, mais uma vez!).

Quero pontuar um dos momentos – para mim – mais admiráveis do filme: uma criança de mais ou menos 10 anos de idade apresenta ao Che Guevara a ‘Cidade Perdida’ de Machu Picchu, no Peru.

O menino mostrava uma parede daquelas de Machu Picchu. Uma obra de arte!. Aquilo havia sido feito, como toda a cidade, pedra sobre pedra; sem utilização de cola ou cimento. E aquele menino, com grande orgulho da construção Inca, mostrava ao Che logo adiante – um metro talvez – uma parte que havia sido destruída pelos Espanhóis. Na tentativa de reconstruir eles – os espanhóis – nem chegaram perto da magnitude da sabedoria dos Incas e acabaram fazendo de qualquer jeito, um amontoado de pedras sem graça, sem arte. Sem qualquer riqueza de estilo.

O que me chamou a atenção é que o menino, embora fosse apenas uma criança, banalizava o serviço mal feito dos espanhóis. É como se ele possuísse um sentimento tão intenso de pertencimento, além de valorizar tanto sua própria cultura, que desprezava a presença do outro – que era o invasor. Aquele menino me fez refletir muito durante o fime e ainda depois dele.

Machu Picchu é patrimônio Cultural da Humanidade. Depois da invasão espanhola, a floresta tomou o cuidado de abraçar as ruínas da cidade e escondê-la (protegê-la) para os próximos séculos.

O mundo sabe das riquezas das Américas e da profunda cultura que ficou e é escondida de muitas formas por aqui. Nossos livros acadêmicos falam muito mais da história européia do que de nossa própria história. Nem sabemos, por exemplo, porque a bandeira de Jequié, aqui da Bahia, possui oito estrelas.

Mal sabemos o que produzimos. Pouquíssimo conhecemos nossa cultura e ainda afirmamos que somos culturalmente pobres. É como se não tivéssemos em que contribuir intelectualmente para a cosntrução de nosso próprio futuro. Assim, o mais fácil é aceitar mesmo as imposições norte americanas e européias, assim como estamos convictos de que para ser bonita, a mulher brasileira precisa possuir cabelos lisos e cumpridos e ser magérrima.

Os jovens da Rússia usam bonés ao invés das antigas boinas que lhes aqueciam o intenso frio.

Estou, neste momento, de calças Jeans. E o calor lá fora…

Temos vergonha de falar espanhol. Estudar esse idioma? Nunca! “É engraçado e parece a turma do Casseta falando errado. ” – Foi o que ouvi outro dia de um amigo dito culto, inteligente.

Meu sotaque tem sido constantemente trocado intensionamente por um jeito de falar globalizado. Vindo de cima para baixo, tão autoritariamente imposto, maior que eu.

Nossas verdades são relativizadas todos os dias. Não temos voz. Não temos vez.

Quando Roma invadiu a Grécia, os romanos foram enfeitiçados pela cultura grega.

A Babilônia pedia aos hebreus que fossem cantados os hinos de Sião.

O dominador, historicamente está provado – pode ser dominado se eu tenho enraizado profunda e fortemente o sentimento de pertencimento; se conheço e tenho orgulho de minhas raízes, de minha própria história.

Dores

Outro dia eu li um blog muito interessante.

Acreditem! A moça (que é brasileira e mora nos Estados Unidos) teve coragem de escrever uma página inteira, todinha sobre Fibromialgia!

O meu limite é: não quero que as pessoas tenham pena de mim e me vejam como uma coitadinha.

Dói. Dói muito! Todos os dias e em lugares diferentes.

Já que eu não tenho coragem de blogar sobre isso, vou tentar fazer um diário relatando aqui o que sinto e tentar registrar onde dói e outras coisas mais…

Eu só sei que nunca – nunca – vou publicar isso.

Dia 14.08.06.

Hoje eu dormi a noite inteira. Ontem passei a noite com meu namorado e ele sempre me faz muito bem. (Esse texto tá parecendo uma pessoa que conheço. Rs.).

Acordei com dores nos ombros, nas costas e hoje senti dor na ponta dos dedos. Nunca a senti. Muito interessante como isso vai se difundindo por todo o corpo…

Sinto umas dores agudas no quadril direito. Meu ortopedista pensa que é da Fibromialgia mesmo.

Eu tento fingir que está tudo bem e estou quase sempre maquiada. Arrumadinha. Perfumada…
Quem me vê agora pensa que está tudo muito bem. Quase não dá pra crer que alguém que sorria tanto e faça tantos movimentos sinta dor vinte e quatro horas por dia. Mas é melhor terem essa imagem de mim.

Eu…

Mi nombre: mi identidad, mi historia.


Estoy cierta de que mi nombre
Dibuja otros nombres
Cerca de mí.

El nombre de mi padre
Cuéntame una historia
Propia de su familia – que es la mía también!

El de mi madre
Habla de vidas
Que fueron algún día
De alguna manera
Importantes para lo que soy ahora
También para lo que voy a ser.

Si mi nombre es dicho en algún encuentro
Sé que están hablando de algo
Mucho mayor que yo.

Están hablando de raíces
De árboles enraizadas
Hay mucho tiempo.

Están hablando de mí.
De mi vida.
De mi historia.

Eso es decir:
Mi identidad.
Algo en ella no mi gusta
Pero no me puedo olvidarla:
Es todo lo que tengo.