MEU PEQUENO MUNDO EM CRISE

Plant in dried cracked mud

Crise para todos os lados e ela, lá em seu pequeno mundo, num momento feminino particularmente sofrível.

 Sim, ela, Psicanalista, se vendo, se percebendo moída, querendo chorar, murchinha, dentro de si.

 Assumir que também sofre lhe remete à sua mais profunda condição de ser humano.

 Sendo mulher, precisando compreender hormônios, oscilações típicas do mundo feminino e refletindo que há um lugar para o sofrimento num mundo que impõe que “você precisa ser feliz a qualquer preço”.

 Os espaços capitalistas quase nos convenceram de que o sorriso precisa estar no rosto todos os dias, de que ela não podia ter seus momentos íntimos de introspecção, de dor, de lamento.

 A ideia de que felicidade é um produto que pode ser comprado numa prateleira de supermercados a aliena de si mesma.

 Tomamos remédio para dormir, café para acordar, estimulante de apetite e inibidor químico. Tudo para ser feliz. Tudo para se sentir bem, realizada. Tudo para estar igual à moça da revista ou da TV.

 A vida calma, o enriquecimento interior – que passa, sim, também, por momentos de tristezas, de gratidão, de reflexão – parece não ter lugar nesse mundo que gira rápido e que lhe pede a melhor foto (e o melhor sorriso) para ostentar nas redes sociais.

 Ela estranha qualquer emoção negativa (dor, tristeza, por exemplo), como se essas também não pudessem de jeito algum fazer parte de sua vida.

 Lá dentro, crise. Lá fora, também.

 E como o grito de um pai desesperado que quer que o filho compreenda, ela ouve um convite à realidade: há crise para todos os lados: crise econômica, social, ambiental, política. Há também suas crises pessoais, seus lamentos. Você está autorizada a sofrer.

 Pronto. Ela chora, lamenta, se angustia, lava e cara e sai pra vida, cheia de segurança pois foi gente.

 Gente de verdade.