INTERPRETAÇÃO DE SONHOS


Longe de terem uma explicação mística, os sonhos são uma forma de termos acesso ao nosso inconsciente. E é justamente para isso que a Psicanálise serve: se tenho acesso às causas de meus impulsos interiores desconhecidos, poderei dar consciência ao que está recalcado, escurecido, incompreendido e assim, terei mais maturidade e capacidade de lidar com minhas dificuldades emocionais e pessoais.

Para cada pessoa, cada sonho terá um significado especial, dependendo da história de vida, da condição sóciocultural e do conjunto de valores de cada um. E ter acesso a esse tipo de conhecimento trará o inconsciente à consciência, gerando em mim maturidade emocional.

É preciso considerar que sempre haverá um motivo, uma razão, para justificar nossas fraquezas, limitações e impulsos. Não para nos justificar ou redimir, mas para nos dar uma direção consciente, apropriada e equilibrada ao nosso modo de ver, agir e pensar o mundo.

Revelar o inconsciente e trazê-lo à consciência é um processo por vezes dolorido e difícil, mas os resultados são especialmente bons para nossa saúde mental e emocional. Se meus sonhos me dão esse prêmio, se trabalhados devidamente, eu preciso analisá-los.

Conforto


Apesar de estar absolutamente na moda a dica de “sair da zona de conforto” e enquanto todo mundo corre para garantir seu lugar ao sol nesse nosso mundo capitalista que nos impõe obrigações em prol da sobrevivência e de sempre ter mais, vale a pena pensar um pouco sobre um tipo de conforto que não esteja ligado ao que a gente comumente pensa. Quero discutir conforto do ponto de vista imaterial, intangível, necessário e indispensável ao nosso bem estar emocional. Aquilo que dá sabor e cor à nossa existência.

Quando a gente é pequeno é mais fácil. Excetuando-se um ou outro caso em que prováveis fatalidades podem ter ocorrido, a gente teve o colinho da mãe ou de outra pessoa que nos tenha feito a maternagem da qual necessitamos para nosso normal desenvolvimento individual e emocional.

Sem choramingos, todos nós tivemos sim alguém – um pai, uma irmã, um tia, uma babá – que cuidou de nós, nos limpou, que nos ajudou a crescer e a construir aos poucos nossa identidade pessoal e emocional. Ideal ou não, tivemos cuidados especiais senão não estaríamos sequer vivos. O bebê humano precisa disso para viver.

Mas a gente cresce. E embora se desconfie que há, vez por outra, quase que por pura carência afetiva, uma extrema necessidade de receber e dar um abraço apertado em alguém, de receber um toque respeitador, um olhar afetuoso e não julgador, raras vezes a gente organiza a idéia do quão importante é um abraço quando adultos.

Quando abraço, ao mesmo tempo sou abraçada. Nesse momento as minhas exigências internas tem contato com o mundo externo. Talvez aí mesmo eu encontre a ponte entre a minha subjetividade e o mundo objetivo, equilibrando, assim, minhas emoções. Isso nos dá chão e nos equilibra.

Mas o adulto pode ser tentado a pensar: se sou uma pessoa adulta, não preciso mais de acolhimento. Nem preciso dar ao outro, ao meu não-eu, um pouco de afeto. Isso se intensifica mais ainda quando se tem o hábito de sensualizar as relações. Grande prejuízo para nosso viver.

Adultos, adolescentes, idodos e crianças necessitam de apoio emocional – mereçam ou não. Precisamos de cumplicidade, de carinho, de cuidados, de um lar que nos promova segurança, afeto, o mínimo de consciência de que não estamos sozinhos no espaço e no tempo. Se meu lar não me dá essa noção, preciso criá-la. Com minha criatividade. Com disposição e coragem. Mesmo que seja só daqui pra frente. Sempre há tempo para refazer as histórias.

Gosto de ler Dr. Winnicott (1) pontuando a importância do cercadinho. Gosto de saber que somos seres dos outros. Gosto de saber que, por exemplo, sou de minha irmã e ela é, de alguma forma, minha. Gosto pensar na idéia de que, aos poucos, desde o abraço da mãe, indo para o bercinho, para o cercadinho, partindo do aconchego familiar, da primeira escola, até os primeiros contatos sociais vou adquiririndo minha independência pessoal e meu jeito próprio de ser. Vou amadurecendo a partir do outro, sempre.

É no outro que podemos ter apoio emocional. É a partir da minha relação com o outro que me vejo e me faço gente. É a partir dele que acolho e sou acolhida, apesar (muitas vezes) de nós mesmos e nossas tão frequentes falhas, fragilidades e equívocos.

Ref.: (1) D. Winnicott – A família e o Desenvolvimento Pessoal.

Ser mulher

Tenho uma predileção especial para estudar mulheres.

Eu penso nelas como gente, como pessoa em ascendência.

Desde Simone de Beauvoir e o movimento feminista, desde as lavadeiras de roupas às margens dos rios em nossas cidades e sua luta pela sobrevivência, o tema me instiga e intriga.

Ser mulher nos dias atuais é algo que beira à contradição: se por um lado ocupamos espaços que historicamente eram como propriedade e direito masculinos, sofremos ainda preconceitos de toda sorte, por todos os lados.

É comum procurarem “o chefe” em departamentos em que só trabalham mulheres ou imaginarem que se a mulher está sozinha ela pode ser assediada de qualquer forma.

Hoje uma cena me chamou a atenção, logo cedo. Observei melhor, com a ajuda de jornalistas, a foto da reunião da Casa Branca sobre os ataques que levaram Osama Bin Laden à morte.

Eu quero ver e pensar aquilo do ponto de vista feminino. Hillary Clinton, na sala de reuniões, era uma das únicas mulheres entre aproximadamente dez homens. Há também, ao fundo da foto que foi divulgada pelos EUA, uma outra mulher. De pé, ao fundo. Os jornalistas afirmavam que ela não tinha qualquer importância. Para quem?

Fiquei pensando que Hillary foi a única pessoa do grupo a expressar, com a mão direita na boca e em silêncio, o que ninguém soube dizer.

Aquela mulher pode ter ficado preocupada com o que aconteceria com os militares que, de helicoptero, estavam naquele momento entrando na casa onde estava Osama e seu grupo. Ou ela pensava que certamente teria sangue e isso seria visto em seguida, não se sabe.

Sendo mulher, Hillary demonstra na foto que sofreu. Talvez houvesse considerado sua maternidade – posto que só uma mulher pode considerar isso – e houvesse sofrido ao saber que vidas seriam ceifadas… não se pode ir no coração de ninguém.

De qualquer forma a mulher fala. Fala muito. Fala nas entrelinhas, em sua expressão corporal, com as mãos, com os olhos. Homens também. Claro. Há, porém, no gesto feminino algo de profundo, de materno, de curioso, de espetacular.

Sinto que muitas mulheres não compreendam bem a liberdade conseguida com luta a partir do Movimento Feminista.

Sobre o assunto, creio que sejam pertinentes as observações abaixo:

  • Definitivamente mulher não é igual ao homem.
  • Nós pensamos diferente, temos nosso olhar próprio sobre as coisas.
  • Nós não estamos em promoção, não somos baratas.
  • Nossa maternidade (latente ou manifesta) nos dá autoridade para falar com mais propriedade sobre vida ou morte.
  • Chegando perto de um ser feminino é sempre bom se lembrar da palavra reverência.
  • Não subestimar jamais a inteligência de uma mulher.

Não se deve ter vergonha de dizer: isso ou aquilo eu não consigo fazer porque não tenho forças. Se homens tem músculos, é bom que sejam usados. Força para quem tem força. Eu não preciso brigar pelo poder do outro.

Eu não preciso entrar em concorrência em minha casa se eu lavo melhor os pratos que meu companheiro. Há coisas que, como mulher, faço melhor. Outras que ele, como homem, faz com melhor eficácia.

Não há sentido em ficarmos competindo. A vida é maior e melhor que as quinquilharias que criamos.

Sou pelo Movimento Feminista que ainda hoje se perpetua no mundo inteiro. Apedrejar uma mulher por adultério significa dizer que ela estava numa relação sozinha. Cadê o seu parceiro? Também seria apedrejado?

Sou por um movimento inteligente que percebe e respeita os espaços de cada gênero mas que também fortalece a mulher a desconfiar que seu comportamento deve ser o de gente emancipada, resolvida, bem orientada e confiante.

Outro dia vi uma mulher em plena Av. Rio Branco, aqui em Jequié, dançando uma daquelas músicas baianas das quais a gente tem vergonha. Preconceitos e moralidades à parte, ela abaixava e se levantava com sua saia curtíssima, crendo que atrairia alguém, talvez.

Pode ser. Pode atrair. Há gente e pensamento de toda sorte. Há pessoas para quem aquele gesto é só mais um gesto que lhe excita ou não.

A minha pergunta é: qual o lugar, qual o espaço que aquela mulher pretende ocupar em sua existência? Que tipo de sentimento ela proporcionava a quem estava por perto? Que visão de gente a gente pode ter ao ver as tão lindas moças – e homens – com essas novas danças (danças?)?

As sociedades Romanas e Egípcias, por exemplo, eram mais imorais que a nossa. Certo. Então não cabem aqui discursos moralistas. Não em pleno século XXI.

Cabe, sim, em qualquer época, a criticidade sobre nossas ações como gente, o questionamento sobre nossa capacidade de ser, pensar e agir. Isso, sim, julgo ser pertinente numa sociedade em que as pessoas sofrem seus males e vão para nossos consultórios com existências desintegradas e completamente deprimidas e/ou ansiosas por não terem se encontrado como gente.

Depressão Pós Parto

A menininha, encantada com sua nova boneca, gasta toda a sua manhã arrumando o cabelo do novo “neném” e trocando sua roupinha. Depois, inevitavelmente põe o bebê para dormir em seu colo num inegável treinamento do que fará quando for grande e tiver oportunidade de ter um bebê de verdade em seus braços.

Aos poucos a maternidade feminina (termo quase redundante) vai vindo à tona. Antes mesmo do/a filho/filha nascer, a mulher já o/a desejou, já sonhou com ele/ela, já sorriu só de pensar na possibilidade de ver sair de si mesma um outro alguém que terá uma nova vida pela frente. Dizem que filhos são projetos daquilo que eu quis ser e não consegui em minha existência. Certamente por isso (além de outras complexidades) que a gente deseja ter filhos.

O sonho de ser mãe vem carregado de boas expectativas, de desejos, de alegrias mas também vem carregado de dúvidas e incertezas. Especialmente no contexto em que vivemos, neste mundo de ponta cabeça, a gente nunca sabe (e soube alguma vez?) o que vem pela frente. No fundo a gente quer mesmo é se perpetuar, quer se ver no rostinho do outro, quer se descobrir gente capaz de ‘fazer’ nova gente. Quer se projetar numa outra vida, quer se reproduzir.

Quem não se alegra vendo um pezinho pequenininho em crescimento? Ou quanta alegria há no coração de uma mãe quando percebe que tem, em seu colo, alguém que traz seu dna, que garante sua perpetuação? Quem vê tanta beleza assim não consegue imaginar quanta tristeza passa no coração de uma mãe que, fatalmente, se percebe triste, desanimada e desgostosa por ter acabado de parir. É mais ou menos assim que ocorre a Depressão Pós-parto. A mãe vai sentindo algo ‘errado’ em suas emoções e, ao contrário da esperada festa, começa a ter sentimentos estranhos em relação ao seu novo bebezinho, à si mesma, ao seu companheiro, à vida etc.

Emoções fortes após o parto são naturais. Quando nasce uma criança também nasce uma mãe. Ainda que já não seja “marinheira de primeira viagem”, aquela nova pessoinha deverá estar cercada de delicados cuidados e novos rituais na casa até que todos se acostumem com a novidade. E quão boa e inusitada é sempre essa ‘novidade’.

Para algumas mães, entretanto, o bicho papão da Depressão Pós Parto vem como vontade de chorar, com ansiedade, com intolerância, tristeza, desânimo, falta de apetite, angústia. Além dessas coisas, a mãe se sente culpada por não ‘desejar’ aquele bebezinho recém-nascido e até pode desenvolver pensamentos de morte. Morte para ela mesma e até para o bebê. Ela, a mãe, não entende o que está acontecendo com seus sentimentos e emoções e sofre. Sofre muito com toda essa situação.

As causas da Depressão Pós Parto podem vir de fatores biológicos (como por exemplo prédisposição familiar para depressão ou problemas hormonais) e/ou fatores psicológicos como baixa auto-estima, ansiedade ou sentimentos negativos acerca da gravidez; má relação com sua própria mãe – que será projetada para a criança; problemas familiares (especialmente com o companheiro); problemas financeiros etc.

Consequência da depressão na mãe, a criança poderá ter dificuldades em seus relacionamentos interpessoais, para agravar ainda mais a situação, tendo em vista que ela ficaria diretamente afetada com a situação depressiva de sua genitora. Essas crianças podem se tornar pessoas inseguras e difíceis pois tiveram, em seus primeiros momentos de vida, relação conflituosa com suas mães.

Para minimizar toda essa situação é estritamente importante que a mulher-mãe seja acolhida e compreendida em seus sentimentos, especialmente se ela for acometida de crises depressivas no seu pós parto. Que não seja julgada se apresentar “curiosamente” certa tristeza após o parto.

Quanto ao tratamento, esta mãe deverá ser encaminhada a fazer uso de medicação (indicada por um médico psiquiatra) e/ou psicoterapia. Valerá, além disso, ter amigos por perto, ter oportunidade de falar/desabafar e ser ouvida com o devido acolhimento e respeito e acima de tudo contar com muito apoio familiar.

Mulheres grávidas podem ser acometidas por diversos problemas tanto em sua gravidez quanto depois do parto. De qualquer forma, ainda que plenamente realizadas, devem ser atendidas com cuidado, carinho, atenção.

Ser mãe é a forma mais sagrada de perpetuar a vida. Seja, então, alegre e realizadora a maternidade.

Morte e Luto


MORTE E LUTO

Pouca gente gosta de falar da morte, embora ela esteja, indiscutivelmente presente em nosso cotidiano. Volta e meia e lá se foi um parente próximo, um amigo, um conhecido, uma pessoa famosa ou desconhecida até. E a notícia nefasta, dolorida, brava, forte, impiedosa, chega a nós: “fulano morreu.”

A depender do lugar emocional que a pessoa (ou animal, até) ocupe em nosso coração, a notícia vai doer mais em alguns casos, menos em outro, mas não passa sem deixar marcas. Ninguém gosta de perder. Ninguém quer perder ninguém.

A notícia da morte vindoura nos dá a chance de passarmos por cinco estágios de amadurecimento da idéia, sendo que o primeiro deles é a negação. Você realmente não quer acreditar que aquilo possa ser verdade, posto que assusta, amedronta, aterroriza. Logo após vem a fase da raiva, da barganha, da depressão e, enfim, a aceitação.

Pensar na morte é, por mais contraditório que possa parecer, pensar na vida. Nada mais certo, mais humano e mais democrático que ela, a “dita cuja”. Pobres, ricos, brancos ou negros, intelectuais ou incultos, crianças, jovens ou idosos, a morte vem sem pedir licença, sem ouvir nosso sofrimento, sem considerar os conflitos que gerará pela desorganização que provoca em nosso ânimo, em nossa vida. Ela vem e cumpre sua missão, com mão de ferro.

Por falar em sofrimento, vem o LUTO. A sensação de perda. As pessoas mais antigas costumavam usar o preto em suas vestes. Hoje em dia, embora isso não seja tão constante, o coração das pessoas estará, sim, em pranto, como se estivesse no escuro, triste, por algum tempo.

O luto é um processo natural pelo qual passam as pessoas que ficaram do lado de cá. É a dor necessária visto que a desordem, a falta, a ausência do nosso objeto de amor não estará mais presente, ao menos fisicamente.

Complicado é quando o luto se estende por muito tempo. Há teóricos que sugerem seis meses, outros que pontuam um ano para que a dor diminua e o enlutado siga normalmente sua vida. Um ano, explicam, marcaria o tempo de se passar todas as datas festivas, o que antes era comemoração, agora sem a pessoa amada.

Além desse tempo, podemos considerar esse luto carregado de melancolia como algo patológico e o enlutado, assim, deverá ser tratado com reverência, respeito à sua dor, mas também, se necessário, com cuidados profissionais. Ninguém merece viver a vida inteira chorando a dor de quem se foi.

O exercício de redimensionar a vida e de projetar seu amor, também, para outra pessoa não é fácil tarefa para muita gente. Pensar em novos projetos, em fazer a vida valer a pena, em continuar a viver com coragem e alegria é um ponto necessário para lhe ajudar a conviver com a dor, com a perda.

Dar uma nova direção e significação à sua existência é, para mim, um bom passo para superar o luto que, aos poucos, vai cedendo lugar a uma certa segurança interior, a uma saudade serena e paciente.

Não adianta se desesperar e não é razoável entrar em pânico. Admitir a morte de quem amamos com serenidade e ternura é um exercício que nos fará bem à vida, principalmente se nossa percepção espiritual estiver antenada à fé, à transcendência.

Solidão no Casamento

Uma coisa é saber que você foi traído, que lhe trocaram por alguém supostamente mais interessante e a relação se acabou. Você chora, até se descontrola e precisa de um tempo para retomar a vida normal e perceber que é necessário construir o que restou da vida, ainda que sozinho, para seguir adiante.


A solidão pode vir também de uma grande viagem, de uma ausência necessária devido a trabalho ou algum outro fator do cônjuge, do/a companheiro/a. Lá vai. Menos mal. Nada que um telefonema, uma comunicação qualquer não ajude a superar.


Mas quando a solidão está presente em casais Casadinhos da Silva? No início tudo eram flores (tudo bem, nem tanto assim!). Tudo maravilhoso… até que os dois, ainda que na mesma cama, não se encontram. Nem na cama, nem na mesa, nem na sala, nem nos olhares, nem em sorrisos, em nada.


Um acorda antes do outro, toma seu rápido café da manhã, vai para o outro lado da cidade, trabalhar. O outro, ao acordar, cuida de seu próprio almoço e segue sua vida solitária de gente casada. Um finge para o outro que tudo está bem, mas o intruso vazio está ali, latente, presente, provocando o frio e doloroso silêncio diário.


Sim. Estou falando de casais que moram na mesma casa, compartilham até mesmo uma só cama mas estão sozinhos. Fato curioso este. De vez em quando são vistos, em silêncio, de mãos dadas na pracinha. Mas a distância entre eles está ali, presente, corroendo as veias de um relacionamento que já se foi embora ninguém ainda tenha percebido. Ou tenha tido coragem de falar: “o que é que há?”


O casal percebe que há algo de errado com eles, mas o avanço tecnológico distrai os dois. Chegam do trabalho e vão ver seu Orkut, seu Facebook. Tem o Twitter também. Ou vão cuidar dos filhos, da casa, da roupa. Da comida do dia seguinte. E o silêncio está ali, presente. Nenhum olhar, nenhum: “como foi seu dia?”, nada.


Há um poeta infantil que, em sua música, tenta definir solidão como sendo “sentimento de que o mundo se acabou. Todo mundo foi embora só a gente que ficou…” É quase isso o que acontece: “Cada qual no seu canto sofrendo seu tanto.” Só. Apenas só.


E o homem e a mulher, que são seres sociais, por definição e por essência, que buscaram a relação com o/a outra/a para amenizar a dor de sua própria existência, para ter mais beleza e alegria na vida, se vê, de novo, sozinho. Assim como se sentiram sozinhos ao nascer, ficando agora pela primeira vez longe daquela barriguinha quentinha e acolhedora.


Vivemos num tempo em que as relações afetivas exigem mais maturidade e menos intenção de controle sobre as pessoas. Elas precisam de liberdade. Ao mesmo tempo, quando convido o outro para compartilhar com ele minha vida, estou também permitindo que ele, junto comigo, hospede a eternidade.


Nessa relação, já dizia o Dr. Flávio Gikovate, deve existir individualismo, respeito, prazer de estar junto com o outro. Não uma relação de quase ou absoluta dependência como era no tempo de nossos pais. Hoje em dia as pessoas tem sede de autonomia. E autonomia e convivência mútua e respeitosa são questões que se harmonizam entre si.


Ou seja: é possível viver minha própria vida quando o outro, ao meu lado, e junto comigo, amorosamente vive também sua individualidade, sua existência e compartilhamos alegrias, tristezas, doenças, pobreza, riqueza. Estar junto é muito bom. Viver em companhia é uma delícia.


Ninguém é solução para minha felicidade. A ninguém cabe o peso de ser minha metade, meu outro pedaço. Isso não é fácil tarefa. Somos pessoas inteiras (apesar de inacabadas, em construção de identidade etc) não uma metade. Não preciso, como dizem, do “outro lado da laranja” para me sentir completo. Já sou uma pessoa completa, inteira. Quem estiver ao meu lado será companheiro/a de jornada, cúmplice nas experiências da vida.


Talvez a palavra apropriada e necessária aqui seja: PARCERIA. Parceiro/a de caminhada. Pessoa com quem convivo e vivo em reverência, respeito, paixão, desejo e amor. Mas um outro que, como eu, tem direito a errar e a desviar o caminho, a ser gente, posto que é gente como eu sou. Que tem direito a querer estar sozinho, mas por opção. Não porque lhe nego um copo d’água, uma conversa, um olhar, o meu amor sincero e maduro.


E se aos poucos a gente fosse pensando que é mais importante desejar o outro do que ter necessidade dele? E se o invés de meu obrigatório companheiro ele se tornasse meu amigo, meu parceiro de caminhada?


Aprender a conviver comigo mesmo para depois saber lidar com as fragilidades e até incapacidades ou potencialidades do outro é uma boa pedida para as relações afetivas atuais e suas exigências modernas.


Estar casado e ser só é coisa sofrida. Sim. Mas a pior solidão é aquela em que a pessoa está longe de si mesma e não consegue ser, para si, a companhia ideal.


Conhecer-se a si mesmo/a e gostar de si mesmo/a será um bom remédio para tanto ter alegria e desejo de viver quanto para atrair o parceiro para seu universo individual, que depois de vivido junto, será um lugar de novo gostoso de se viver.


Em casa, na rua, no trabalho, onde quer que se esteja a vida assim será boa, agradável.


Ser é o bastante. Faz melhor sentido o que nosso velho Quintana sinalizava: “Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você. O segredo é não correr atrás das borboletas… É cuidar do jardim para que elas venham até você.” Essa premissa, posto que sirva para nossa subjetividade, valerá também para a nossa vida com o outro.



Psicoterapia on line

Gente;

Para quem ainda não sabe, estou atendendo on line através do Skipe, aqui na Internet.
Meu endereço lá é iedasampaio. Fácil assim.
Quem tiver interesse pode marcar comigo por e-mail (iedasampaio@gmail.com) e, assim, a gente pode conversar direitinho e explicar melhor como funciona, garantindo antecipadamente todo o sigilo, ética, técnica e profissionalidade próprios da Psicanálise Freudiana.
Atendimentos desse tipo devem garantir ao paciente a segurança de contar com um profissional devidamente habilitado, além de contar com a praticidade que as novas tecnologias nos garantem e a facilidade de poder receber atenção e tratamento sem precisar sair de sua casa. Isso significa segurança.
Desejo a todos bons sonhos.

Ser professor/a

Se alguém lhe perguntasse, ela certamente afirmaria: “Quero ser professora, quando crescer”.

O sonho de ser professor/a perseguia a criança como uma profissão bela e alegre pois a professorinha/o mestre cumpria com extremo amor seu exercício de ensinar e era lindo ver aquela grande pessoa totalmente comprometida com minha aprendizagem ali, acima e ao mesmo tempo tão perto de mim, me ensinando a ver o mundo de um jeito bonito e enriquecedor.

A fantasia de que ensinar era uma experiência dos contos de fada prevalece ainda no coração de muita gente. A criança projeta no/a professor/a a imagem da/o mãe/pai perfeita/o e imagina que o alimento simbólico (que está para lá do conceito de “comida”) de que precisam será fornecido por ele/a (o professor) por toda a vida.

Há um misto de amor e ódio, presente também na relação mãe x filho projetado para a relação aluno x mestre. Isso dá um ‘caldo’ interessante e complexo. Quem é que já não foi apaixonado pelo/a professor/a? Quem não já teve por seu ‘guia’ escolar um sentimento ruim, uma certa raiva ou descontentamento?

O desejo de ser professor/a ainda é alimentado por algumas pessoas, embora em muitos casos as famílias não estimulem tanto que seus pequenos desejem o caminho da escola como profissão tendo em vista vários fatores, especialmente a questão financeira: “professor ganha pouco. Vamos sonhar com outra coisa” – dizem alguns pais.

O/a professor/a lida com questões bastante delicadas em seu exercício profissional. Uma delas é a diversidade de sua clientela: crianças alegres, tristes, curiosas, desanimadas. Até crianças agressivas. Emoções de todo tipo são vivenciadas na sala de aula e o mestre precisa lidar tanto com as emoções dos alunos, dos colegas, da direção e dos funcionários, em geral, quanto com as suas próprias emoções. Haja Inteligência Emocional para dar conta de tamanha demanda!

Dizem que o/a professor/a deveria estar preparado/a. Sendo assim, vale a pena questionar se estaria mesmo, por exemplo, o médico preparado para curar? Estaria de fato o advogado perfeitamente preparado para realmente defender? Os pais, para terem filhos? É imperativo o preparo técnico, sim. Mas e o preparo emocional? E quanto às dificuldades pessoais do mestre?

Suportar sua própria dúvida, aceitar seus limites, perceber o outro como sujeito, lidar com meu amor/desamor próprio, com meu narcisismo, com a dor do mundo, com a solidão da sala de aula (ainda que cheia de alunos), fazem da educação uma tarefa difícil e complexa. Como diria Freud: “Ensinar é uma tarefa impossível!” Lidar com tantas variáveis não é uma prova na qual facilmente se tire uma “nota dez”.

O/a professor/a convive diariamente com as fronteiras e impossibilidades de ensinar e do aprender. O eventual fracasso das estratégias, recursos e métodos escolhidos para ensinar fazem com que ele/a viva uma certa frustração laboral tão intensa que leva muitos deles/as a pedirem demissão e buscarem outra forma de sobrevivência.

Reconhecer a própria incompletude como educadores minimiza o sentimento de culpa do mestre e o ajuda a perceber a possibilidade de seguir adiante com coragem, respeito e tolerância às suas próprias limitações e às limitações do outro (seja esse outro seu aluno, colega de trabalho etc).

O confronto com o não saber sobre o outro e sobre si mesmo pode causar profundos conflitos aos mestres, mas é ao mesmo tempo uma oportunidade que ele terá para considerar que ele não é um semi-deus e que poderia lidar melhor com essa limitação se buscasse tolerância para seus próprios limites e para os limites do outro.

Se o/a professor/a disponibilizar seu coração para além de escutar, ouvir – ainda que o assunto seja conflitante – ele perceberá que pode conseguir verdadeiros adeptos ao seu caminho ou pelo menos elaborar uma melhor política de convivência em sala de aula. Além disso, se o mestre contar com uma comunidade aberta para ouví-lo e acolhê-lo em suas dificuldades, melhor ainda será sua caminhada até a escola e além dela.

Num lugar de acolhimento e escuta, onde as pessoas possam até discordar mas que se sintam respeitados, reverenciados e ouvidas, haverá sabor e cor para se iniciar e se terminar o ano letivo com alegria e disposição.

Acolhimento, talvez, seja a a melhor palavra para finalizar este texto. Definiria o que tentei expor.

Quem sabe assim tenhamos cada vez mais pessoas apaixonadas, encorajadas e comprometidads com a Educação acadêmica?