Superstição

superstição

Conheço uma música boa de cantar do compositor brasileiro João Gilberto que diz assim: “Vivo esperando e procurando um trevo no meu jardim / Quatro folhinhas nascidas ao léo / me levariam pertinho do céu /feliz eu seria / e o trevo faria / que ela voltasse para mim. / Vivo esperando e procurando um trevo no meu jardim.”

Parece música de criança e realmente só uma criança para acreditar que um trevo de quatro folhas, mesmo raro e interessante, teria o poder de me trazer quem amo de volta.

Você fica feliz quando encontra um trevo de quatro folhas?

Você evita passar debaixo de escadas?

Você coloca sua cueca da sorte quando seu time vai jogar?

Fica temeroso quando vê um gato preto?

Evita pisar no chão com o pé esquerdo quando acorda ou faz o possível para entrar com o pé direito nos ambientes nos quais você entende que precisa de boa sorte?

Passar o réveillon usando a cor branca em todas as peças de roupas?

Você acredita que colocar um elefante de costas para a rua em sua casa ou trabalho atrai dinheiro e prosperidade?

Você acredita que precisa limpar toda a sua casa e afastar os maus espíritos se alguém, ainda que pertença à sua família, acaba de sair dela?

Então provavelmente você é supersticioso.

O superticioso obedece a todas essas regrinhas e muito mais.

As pessoas se cercam de todos os modos, de amparos e certezas, para apaziguarem suas inseguranças em relação ao seu destino.

Desde que nascemos, o medo do desamparo é presente na vida humana.

Carregamos em nossa essência uma certa sensação de vulnerabilidade.

Temos crendices de sobra e parece que nossa saúde emocional está amarrada a um monte de crenças em que nos apegamos como crianças inocentes que não conseguem discernir a realidade do mito, a verdade do imaginário.

Para Manoel Thomaz Carneiro “Chegamos ao mundo com uma “Estrutura Psicológica” que não nos habilita a darmos conta sozinhos da vida. Por isso desde que nascemos precisamos de olhos que nos acolham, que adivinhem as nossas necessidades. A sensação de confiança em si mesma, como pessoa, é desenvolvida a medida que os nossos “protetores” nos incentivam primeiro diante dos olhos deles a experimentarmos as ações independentes. Os cuidados que recebemos vão sendo internalizados gradualmente como sensação de amparo, que amortizam as nossas inseguranças, de modo que possamos de certa forma viver com medos mais apaziguados.”

Se a criança é educada com a maior segurança possível por parte dos pais ou cuidadores e ela aprende a confiar em si mesma, ela vai aprendendo a ser cada vez mais livre de pensamentos negativos, escravizadores e ou limitadores de sua liberdade.

Paulo Freire, educador brasileiro, dizia que nossa vida não é escrita de determinismos, mas de possibilidades. Isso significa que podemos construir nossa história do jeito que quisermos e que nosso caminho, nossa vida, pode ser escrita diariamente, da melhor forma possível.

4 pensou em “Superstição

  1. Mantras, ritos e muletas compõem, para muitos (inclusive cristãos, se é que cabe o inclusive), uma zona de conforto, por mais incrível que isso possa parecer aos adeptos da boa e salutar atividade do pensamento autônomo e desimpedido (tanto quanto possível).
    As pessoas, indistintamente, precisam de respostas. Buscá-las envolve um eterno desestruturar-se e reestruturar-se, pois este exercício investigativo conduz a verdades. A verdade que liberta é mesma que dói. Nem todos entendem que a desacomodação oriunda da dor é uma das principais etapas do crescimento humano e que evoluir é um processo doloroso. Liberdade dói. Daí porque tanta gente imersa numa vida mitificada, abstendo-se de escrever a própria história.

  2. A propósito, Ieda… como não pareceu proposital, achei por bem informar que a segunda e a quarta pergunta, sobre o hábito de desviar de escadas, estão iguais. Era só isso, então, esse comentário você pode excluir. Se quiser excluir o primeiro também… (hehehe)

    Ah! A do elefante eu não conhecia. Devo ter algum problema, porque imaginei o elefante literal, o animal dentro de casa (rsrs). É a estatueta, claro!

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